9 de dez. de 2003

PERDEMOS O DIREITO DE ERRAR

Será que você lembra como eu lembro o Mundial que o Zico foi buscar?

Eu lembro. Tinha o dedo do Márcio Braga.

Vitorioso no pleito de ontem, Márcio Braga foi irretocável ao definir o atual momento rubro-negro: “Perdemos o direito de errar”. Depois da gestão esquecível de Luís Augusto Velloso, dos anos negros do nefasto Kléber Leite (nunca minha auto-estima de rubro-negro se viu tão abalada), de três anos e meio com o gangster Edmundo dos Santos Silva e do mandato-tampão do Helinho, eis que a meia dúzia que decide os destinos da maior paixão de 35 milhões de brasileiros resolveu não improvisar: reconduziu à cadeira de Gilberto Cardoso o homem que montou o maior time da história do Rio de Janeiro.

O direito de errar nós tínhamos perdido há muito tempo. Márcio Braga já devia ter sido eleito em 1998. Contava com o apoio da maioria esmagadora da torcida, que ficou deveras decepcionada quando a meia dúzia que vota elegeu um ilustre desconhecido com dois sobrenomes e um discurso igualzinho ao do Kléber Leite e do Luís Augusto Velloso. Veio o quarto tri, a ISL veio e se foi, vieram os escândalos e o Edmundo foi embora cassado, proscrito e algemado. E subitamente o Flamengo parecia um convento de carmelitas descalças. Pulhas e canalhas circulavam pela sede do clube e davam palpite em seus destinos com uma candura de criança que morre sem pecado. Como se a cassação do Edmundo os tivesse livrado do peso do Pecado Original.

Alguns desses pulhas até cogitaram seriamente de ocupar a Presidência -- especulações que, só por serem anunciadas, comprometeram ainda mais a periclitante credibilidade do clube. Um deles um cavalheiro que, acusado de embolsar 60% do dinheiro da Petrobrás, defendeu-se de frente erguida afirmando que só embolsava 15% (v. Hélio Fernandes, Tribuna da Imprensa, passim).

Perdemos o direito de errar. Márcio Braga volta com cinco anos de atraso. Se me defraudarem de novo, só assisto rugby. É meu último sopro de esperança.

Ou penúltimo.

O Tinhorão ainda acalenta uma esperança, um projeto cuja execução independe do Márcio Braga ou de quem quer que ocupe a Presidência do clube. São idéias que compartilhei com um punhadinho de rubro-negros da melhor cepa, gente de bem, de conduta irrepreensível, apaixonada pelo Flamengo -- inclusive gente que tinha voz na gestão que se encerra.

Gente que encareço a brigar pela idéia.

Gente que quero ver suceder o Mácio Braga.

***

Não escrevo nada já há uns dois meses. Trabalhei demais nesse lapso e o Flamengo não me deu motivos para atualizar o blog. No final das contas, teríamos tido a campanha decorosa que eu pedi não fossem as goleadas que sofremos diante das nulidades do Paraná e até do Fortaleza.

Que 2004 seja melhorzinho. Que o Márcio Braga traga o meu Flamengo de volta. Que eu tenha ânimo para voltar a escrever sobre a camisa vermelha e preta que me foi apresentada pelo meu pai numa longínqua tarde de 1980, num Maracanã festivo que aspirava a algo mais que uma campanha decorosa.

Feliz 2004 para todos nós.

23 de out. de 2003

A FOLHA, ESSE JORNAL ESCROTO

Obrigações laborais têm impedido a atualização deste blog na freqüência que eu estimo apropriada. Uma pena, pois com isso não fiz um único comentário a respeito de nossa vitória sobre o Vasquinho e sobre a concretização de minhas previsões de que técnico bom, no Flamengo, não dura: a diretoria não deixa.

Saio desse silêncio forçado para comentar um assunto que não tem nada a ver com futebol, mas que eu não poderia deixar de registrar, considerando tudo o que já escrevi, aqui, sobre aquele tablóide para débil-mental que é a Folha de São Paulo.

Vejam só o que declarou a uma repórter da Folha o assessor de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Sr. Renato Homem de Almeida Neto -- e ainda passa uma cantada na repórter! E vejam só o tremendo recibo que esses idiotas da Folha acabaram publicando.

De minha parte, acho que deviam erguer uma estátua ao Sr. Renato Homem de Almeida Neto. Um gênio da raça, o sujeito!

Secretaria dificulta acesso a documento

DA SUCURSAL DO RIO

O assessor de imprensa da Secretaria de Segurança do Rio, Renato Homem de Almeida Neto, disse ontem que a Folha é um "jornal escroto" e que, por isso, terá dificuldade de acesso ao processo administrativo que autorizou a viagem do chefe de Polícia Civil.

"Não é nada contra você", disse ele à repórter, por telefone. "Eu te adoro, você é bonitinha, mas ninguém aqui tem boa vontade com a Folha, da mesma forma que a Folha não tem boa vontade com a gente. Você vai receber depois de todos os trâmites burocráticos."

Há dois dias, a reportagem tenta ver o processo, que tem como requerentes "Álvaro Lins dos Santos e outros", segundo o site do Proderj (estatal de processamento de dados).

16 de set. de 2003

PELÉ, ZICO E O RESTO

Definitivo: Pelé dixit. "O Maradona não é unanimidade nem na Argentina. Primeiro tem que resolver a questão doméstica com Di Stéfano. Nesses anos todos, o jogador que mais se aproximou de mim foi o Zico."

Foi numa entrevista ao Esporte Espetacular de domingo passado. Claro que, além da comparação entre Pelé e Zico, a outra que se depreende das palavras do Rei -- Zico x Maradona -- é pertinente, envolve dois gênios absolutos e foi, de resto, a grande polêmica de fins dos anos 70, início dos 80.

Como o Pelé, sou mais o Zicão.

O problema está em comparar o Zico com estrelas menores (bem menores, e com a língua presa) do nosso futebol, como andou ensaiando a Placar há um par de anos. Mas o Rei falou, Pelé dixit: abaixo dele, é Zico e não tem pra ninguém.




11 de set. de 2003

FALTOU MÃE

“Zico é um caso raro no futebol. Como poucos conseguiu se colocar acima de rivalidade e bairrismo e se tornar quase unanimidade em todo o planeta. É mais fácil encontrar pessoas que questionem Pelé do que Zico.

Assim começa a excelente entrevista de Wagner Vilaron com o Zicão, publicada pelo Estado de São Paulo hoje. Vale muito a pena ler, sobretudo por uma explicação que, acho eu, o Zico nunca tinha dado: o episódio do corte do anão marrento, em 1998.

Conta o Galinho que foi ele quem pediu à comissão técnica que tivesse paciência com o anão, que esperassem algumas semanas para ver se ele se recuperava. Quando ficou claro que o marrentinho não teria condições de jogar a Copa, toda a comissão técnica tirou o corpo fora, com medo de dar a notícia ao mais insuportável de quantos jogadores vestiram a camisa amarela (e aí incluo gente finíssima do quilate de Marcelinho Carioca, Serginho Chulapa e Paulo César Caju).

“O problema é falar com ele? Então pode deixar. Fui lá e falei.” Pronto: o anão despeitado inventou aquela história estapafúrdia de que o corte foi perseguição do Zico -- conversa mole, aliás, prontamente reproduzida por alguns jornalistas assalariados (no sentido que Chateaubriand emprestava ao termo) do Rio, marionetes bem remuneradas da assessoria de imprensa do anão.

Sobre o maior de todos, o mais querido de todos disse o seguinte: “Essa história de ficar comparando com Pelé acabou com a carreira de muita gente. As pessoas levam isso a sério e acabam cobrando o jogador como se ele fosse mesmo o Pelé. É absurdo sujeitar um garoto a esse tipo de cobrança, de comparação. O cara não vai segurar a onda mesmo”.

Verdade, Zicão. Mas, se alguém um dia chegou perto disso, foi você, meu Rei.

Enquanto isso, eis aí o Ronaldinho a pedir estatísticas sobre os gols de Pelé e a fabricar factóides prontamente reproduzidos e defendidos por bobos-alegres da Folha (sempre a Folha). Numa seleta roda de amigos, disse eu que faltava ao Ronaldinho alguém como aquele soldado que acompanhava os generais romanos que regressavam triunfantes à Cidade Eterna. Ao lado do general hierático, estátua de si mesmo, ia um soldadinho soprando-lhe ao ouvido: “memento moris” -- lembra-te de que és mortal.

O Pelé não é, rapaz. Você é.

Se até o Zicão pode reconhecer, para que essa palhaçada agora?

Acho que não faltou o soldadinho, não. Faltou foi o bom-senso materno. Faltou quem dissesse: “Meu filho, pra que essa besteira? O que você ganha com isso?” Faltou mãe.

Dona Sônia, cadê a senhora?

2 de set. de 2003

OS MEUS FLAMENGO x CURINTCHA



Acredito seriamente que um dia Flamengo x Curintcha será o superclássico brasileiro, aquele que os torcedores aguardam um ano inteiro -- suplantando, assim, clássicos regionais como Flamengo x Vasco e Curintcha x Parmera. De modo que a vitória rubro-negra de anteontem, por insípida que tenha sido, merece no mínimo um registro, pelo menos como ponto de partida para minhas reminiscências de outros Flamengo x Curintcha.

Quem me ouve vituperar contra o Curintcha há de pensar que clube tão escroto alguma vez foi responsável por algum trauma meu. Pelo contrário: estive em três Flamengo x Curintcha. Nos três batemos os gambá de goleada.

O último foi um 4 x 1, em 1998, se não me engano. De um lado, o desfalque de Romário -- para variar de fora, com dorzinha na panturrilha, na barriguinha ou no útero. De outro, o líder incontestável do Brasileiro, comandado pelo intragável mas competentíssimo Wanderley Luxemburgo. Foi o maior jogo da carreira do Iranildo. Saiu aclamado, aos brados de "Chuchu é Seleção". Desnecessário dizer que Iranildo nunca mais jogou aquilo tudo e hoje mostra seu futebol refinado no Brasiliense de Luís Estêvão.

Outro foi aquele dos 5 x 2, acho que em 1994. O Zagallo, então técnico da Seleção, foi ao Maraca para ver Sávio. Viu Magno. Se não me trai a memória, Magno meteu três gols e o Sávio deu um passeio de 90 minutos pela Avenida Gralak. Naquele ano, o Curintcha seria vice-campeão, suplantado pela classe superior do maior rival.

Mas o primeiro -- ah! o primeiro... Eu tinha sete anos, fui ao Maraca levado pela mão do meu pai. 1983, tempos de Zico, Júnior, Leandro e Raul. Estreava no comando do time o Carlos Alberto Torres. Do outro lado, aquela mulambada de sempre de Biros-Biros e Casagrandes. Transcorridos 90 minutos, o placar estampava 5 x 1. Mas houve outros três gols rubro-negros, injustamente anulados.

Neste ponto, ergo a fronte e digo para quem quiser ouvir: senhores, eu vi o Flamengo meter OITO no Curintcha.

***

Ontem à noite meu amigo André Dória me chamou para ver preciosidades que ele tinha descoberto em fitas de vídeo. Após assistir a dois episódios do Documento Especial -- uma porrada na cara do telespectador ainda hoje, passados 16 anos --, a surpresa: Brasil x Irlanda do Norte, 1986.

Zicão com a bola pela direita. Nenhum irlandês consegue chegar a um metro do Galinho. Bola para Careca. Bola para Zico na entrada da área. Dois irlandeses acossam o Zicão. Foi como se a bola nunca tivesse chegado nele: com o calcanhar, a bola volta, num átimo, para Careca com o arco escancarado pela frente. Gol do Brasil.

Muita coisa passou pela minha cabeça na hora. Lembrei de como era mais genuína a alegria do povo com sua Seleção. Nossos jogadores eram nossos jogadores, o Zico era do Mengão, o Careca era do São Paulo, o Josimar era do Botafogo.

Mas a conclusão que ficou mesmo, vendo o toque de calcanhar do Zico, vendo o botafoguense Fernando Vanucci desmanchar-se em elogios os mais rasgados ao ídolo rubro-negro -- o que ficou mesmo foi o seguinte: senhores, nunca haverá outro igual.

***

Um dos meus sete leitores, Renato Freire, recentemente botou no ar mais um blog rubro-negro: Homem Gol. Não fosse eu um analfabeto em HTML, faria uma coluna de links e o incluiria lá, junto com o Nove Meses, a coluna do Juan Saavedra e demais amigos do Tinhorão. Como sou uma besta, fica pelo menos o registro, com o link no texto.

25 de ago. de 2003

CALAZANS WATCH

Fernando Calazans (foto): "O São Paulo -- esse São Paulo tão escasso de talento, tão escasso de criatividade no meio de campo -- só pode estar em terceiro num campeonato que, tecnicamente, não passa de mediano".

A passagem acima confirma a minha impressão de que o Sr. Calazans julga os times de fora do Rio tão-somente pelo que fazem contra os times do Rio. Sim, porque, ainda que este São Paulo não seja exatamente o São Paulo do Telê, dizer uma estultice dessas é coisa de quem ignora que, há alguns dias, este mesmo São Paulo tinha, a envergar suas cores, um tal Kaká (vendido) e um tal Ricardinho (machucado). E o Júlio Batista ("diga o que quiser, mas titular na Copa Ouro", lembra o amigo Juan Saavedra).

O Sr. Calazans faz julgamentos definitivos, inapeláveis pelo que viu em um único jogo. Tem, se tanto, uma vaga noção do que se passa no futebol de São Paulo e de Minas. Da Europa, vê os gols da rodada no domingo à noite e vem escrever no dia seguinte que "o Madrid anda jogando um futebol esfuziante".

Como se não bastasse a ignorância e o desconhecimento demonstrados ao longo dos anos, ainda é provinciano. De um provincianismo que ficaria bem nos jornais de São Paulo, não em páginas que já contaram com Nelson Rodrigues, Mario Filho, João Saldanha e Armando Nogueira...

4 de ago. de 2003

NOME AOS BOIS

Leonardo Gaciba. É esse o nome do juiz que apitou o Flamengo x Ponte Preta de ontem, deu inacreditáveis oito minutos de acréscimo a troco de porra nenhuma e permitiu à antipática equipe da máscula metrópole interiorana empatar o jogo a inacreditáveis 52 do segundo tempo.

Leonardo Gaciba é o mesmo cretino que, ano passado, deu um cartão amarelo para o jogador Jabá, do Coritiba, porque passou o pé em cima da bola em jogo contra o Santos. Esse luminar entendeu que, com o gesto, o jogador do Coxa estava menosprezando o adversário.

Não restam dúvidas, portanto, de que é um imbecil. Talvez, ontem, só quisesse aparecer, talvez só quisesse posar de juiz rigoroso na aplicação da lei -- o que está longe de ser verdade, de vez que não teve colhões para expulsar o ponte-pretano Alan, que, como último homem, impediu a progressão de Ânderson rumo ao gol.

Ainda não é o bastante para Leonardo Gaciba fazer companhia a Giuliano Bozzano na lista de ladrões que tanto nos têm prejudicado desde que passou a faltar pulso na Gávea. Mas convém ficar de olho nesse sujeito.

28 de jul. de 2003

CALAZANS WATCH

O Sr. Calazans gastou 19 das 156 linhas de sua coluna de hoje (cerca de 12%) descrevendo o gol do Marcelinho contra o Santos. Não terá ocorrido a ele que todo o mundo viu esse gol pela televisão? Ou acha que, narrado o gol na precisa e poética linguagem calazaniana, detalhes que até então nos escapavam por completo ficarão para sempre gravados em nossas memórias?

***

Outras 67 linhas (cerca de 42% da coluna) são utilizadas no desenvolvimento das seguintes idéias, cuja complexidade evidente bem justifica o dispêndio de quase metade do espaço disponível:

1) O México é muito ruim.

2) O Brasil perdeu do México.

3) O Brasil é um time ruim.

4) Se o Sr. Calazans diz que o Brasil é um time ruim, é porque seus padrões são elevados.

***

Sou só eu ou alguém mais também acha que esse espaço precioso do jornal seria menos desperdiçado com notícias sobre badminton, pólo aquático ou chicotinho-queimado?

21 de jul. de 2003

A LEANDRO E O TÚMULO DO SAMBA


Guarulhos, 4 de março de 2003

Diante da derrota rubro-negra de ontem, não estou com paciência para escrever sobre futebol. Meus leitores hão de me perdoar, portanto, se eu me desvio do tema precípuo deste blog para achincalhar um pouco a antipática Leandro de Itaquera e, por meio dela, o carnaval do Túmulo do Samba, São Paulo.

A foto acima foi tirada na terça-feira de carnaval de 2003. Terça-feira gorda, portanto. O local: Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde um atraso de umas três horas no vôo que o levaria ao Rio de Janeiro garantiu ao Tinhorão a pior terça de Carnaval de sua vida. A cena: diante da mais absoluta falta do que fazer em plena terça-feira gorda, paulistanos aglomeram-se na janelinha do aeroporto para ver avião levantar vôo -- o mais emblemático programa de paulista, mais até do que o frango com macarronada vendo Silvio Santos.

A foto é mais eloqüente sobre o Carnaval paulistano do que eu jamais poderia ser.

Nos comentários ao post abaixo, um tal Professor Emerson Nunes, identificando-se como “jornalista responsável do GRC Escola de Samba Leandro de Itaquera” (whatever that means), expressa sua indignação pelo tratamento dispensado por este cronista “à nossa Vermelho e Branco (sic) da Zona Leste” e assevera, “em caráter explícito” (sic), que eu não entendo nada de carnaval e nem conheço a Leandro de Itaquera.

Pelo menos acertou em seu último palpite: não conheço e não faço questão nenhuma de conhecer. Em matéria de carnaval, sou da Estação Primeira e só respeito escola que desfile na Sapucaí. Essa conversa de desfile de escola de samba em São Paulo tem tão pouca credibilidade que os desfiles começam na sexta-feira -- antes, portanto, de começar o Carnaval. Um aquecimento razoável para o Carnaval de verdade, no más.

Mas voltemos à Leandro de Itaquera e ao Professor Emerson Nunes. O catedrático paulistano mente descaradamente ao afirmar que a Leandro de Itaquera “desde 1989 pertence ao Grupo Especial da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo”. Na verdade, foi rebaixada ao Grupo 1 (a segunda divisão do samba paulista) em 1995, e lá permaneceu por um ano. Não que eu dedique grande respeito às escolas que pertencem ao tal Grupo Especial de São Paulo: Mocidade Alegre, Unidos do Parque Peruche, Rosas de Ouro, Gaviões da Fiel, Leandro de Itaquera -- todas essas agremiações, para padrões cariocas, não passam de blocos grandinhos, ou de cordões gigantes. No Rio, seriam rebaixadas do Grupo de Acesso. O Boi da Ilha dá de goleada.

Mais sobre a Leandro de Itaquera: este ano, a escola prometeu levar à avenida um casal “simulando cenas de sexo explícito” (sic). Aparentemente não ocorreu ao Professor Emerson que ou é simulação ou é explícito. Os dois não pode ser.

Mas impagável mesmo foi o samba-enredo que eles tiveram o desplante de apresentar. O tema que tiraram da cartola foi “qualidade de vida: direito do povo” -- tema que eles conhecem só de ouvir dizer, já que moram numa cidade onde qualidade de vida é uma aspiração tão distante quanto a cura da AIDS é para o resto da humanidade. O sambinha tem versos inacreditáveis como os que se seguem, que, no Rio, garantiriam uma viagem sem volta para a terceira divisão do samba:



Viver é sempre uma arte
Hoje a humanidade está à procura de alegria
E a Vermelho e Branco vem mostrar
Que é preciso bem estar, mais qualidade de vida
[...]
Não quero mais pobreza
Nem tampouco a natureza
Sofrendo tanto mal
E aqueles que só pensam em lucrar
Um dia vão ter que mudar



Os versos -- como a foto acima -- falam por si sós. O Professor Emerson Nunes jura que eu não entendo de samba, mas ele, entendido auto-proclamado, acredita piamente que isso aí em cima é samba. Para o meu gosto, samba é Bumbum Paticundum Prugurundum, é Ziriguidum 2001; samba é o da Mocidade de 1991 (sonhar não custa nada / E o meu sonho é tão real), é o da União da Ilha de 1982 (Será que eu serei o dono desta festa / Um rei no meio de uma gente tão modesta) ou o de 1978 (a cigana leu o meu destino), é o da Estação Primeira de Mangueira de 1986 (Tem xinxim e acarajé / Tamborim e samba no pé).

Disparidade de critérios não costuma ser motivo suficiente para proclamar que o outro não entende nada de determinado assunto. Mas, no caso presente, a julgar pelos versinhos que ele jura serem a quintessência do samba, e a julgar pelos padrões por que eu costumo avaliar os méritos de uma escola (delineados acima), acho que eu é que estou em condições de asseverar, com o ar mais grave deste mundo, que o Professor Emerson Nunes não entende porra nenhuma de samba.


8 de jul. de 2003

ÉS O ALTAR DOS NOSSOS CORAÇÕES



Posso estar citando o Nelson Rodrigues com demasiada freqüência, mas o nosso maior cronista e dramaturgo descobriu uma daquelas verdades eternas quando se saiu com essa do Óbvio Ululante.

Com a licença do Nelson, então, volto a usar o Óbvio Ululante como gancho para o meu raciocínio.

Que o Rio de Janeiro, com todas as suas mazelas, é a única cidade brasileira que pode pretender sediar os Jogos Olímpicos sem cair no ridículo é de uma obviedade que chega a ofuscar. Sendo um pouco pedante, eu diria que o Rio é a nossa única world class city. A candidatura de São Paulo era um exotismo que ainda merece estudos sérios de psiquiatras e sociólogos, para não falar de especialistas em finanças públicas (sim, pois despender dinheiros públicos num projeto lunático desses justificaria uma investigação mui criteriosa do Tribunal de Contas de São Paulo, quem sabe até uma CPI).

Com todo o seu dinheiro e toda a sua pujança, São Paulo não é mais do que uma megalópole do terceiro mundo, como tantas outras que crescem como cogumelos ao sul do Trópico de Câncer. E pretender que São Paulo possa sediar os Jogos Olímpicos equivale a defender direito semelhante para Bombaim, Jacarta ou Karachi -- todas elas superpovoadas e com marcas de uma opulência relativa, arranha-céus de vidro e franquias da Louis Vuitton, mas todas elas iguaizinhas em seu terceiro-mundismo.

O Rio também é terceiro mundo, mais do que São Paulo. Mas, senhores, o Rio é o Rio! O Rio é o tráfico, as balas perdidas e as crianças no sinal, mas o Rio é também o Maracanã, Copacabana, Ipanema e Leblon. O Rio é Vinícius de Morais, Cartola, Pixinguinha, Chico Buarque e a Estação Primeira. O Rio é Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Lima Barreto, é até bastante Carlos Drummond. O Rio é o Fla-Flu, é o Cristo Redentor, é o poente do Leblon (o Rio é a única cidade do mundo onde se batem palmas para o pôr-do-sol). É o Paço Imperial, a Candelária, a Igreja do Carmo (onde se coroaram dois Imperadores) e o Palácio do Catete (onde um Presidente meteu um tiro no peito).

De onde São Paulo pode tirar méritos semelhantes para concorrer com o Rio é coisa que me intriga. A Praça da Sé, o Viaduto do Chá e o Grêmio Recreativo Escola de Samba Leandro de Itaquera? Tenham a santíssima paciência! Se o assunto é insegurança e o único mérito de São Paulo é uma normalidade fictícia, nesse quesito ela perde de goleada para absolutamente todas as demais concorrentes. Seria uma candidatura natimorta, como foi uma pré-candidatura abortiva.

Por essas e outras, e após ouvir as recentes declarações da Excelentíssima Senhora Prefeita de São Paulo, pondero e obtempero:

Tumdumdumdumdumdumdumdumtumtumtumtum

Ei, Martha, vai tomar no cu!

23 de jun. de 2003

NANICOS DA BOLA, NANICOS DA CRÔNICA

“O baixinho Igor não é nenhuma maravilha (nem pode ser com aquele tamanho), mas tem suado e honrado a camisa do Flamengo.”

O autor de semelhante atrocidade não podia ser outro senão o Sr. Fernando Calazans, que três ou quatro vezes por semana dá o ar de sua falta de graça n'O Globo, onde exerce os misteres de proclamar o óbvio e de dar palpites azedos e errados sobre o que não for de uma obviedade ofuscante.

Segundo me informa um amigo, Igor tem 1,66 m. A mesma altura de um jogador que, ainda juvenil, lá para 1975, entrou no intervalo de um jogo do Argentinos Juniors fazendo embaixadinhas e saiu aclamado pela torcida, aos gritos de “ponelo al pibe, la puta que te parió” -- põe o garoto pra jogar, caralho! O pibe depois ganhou uma Copa do Mundo sozinho e tornou-se um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Com 1,66 m.

Estivesse o Sr. Fernando Calazans no campinho de La Paternal naquela tarde de 1975, teria batido boca com os pouquíssimos torcedores a testemunhar aquele momento histórico. Teria argumentado, com o mesmo ar de grandes merdas que assume ao dar seus palpites azedos n’O Globo, que o pibe não podia ser nenhuma maravilha, com aquele tamanho.

Uns dois centímetros acima do pibe está outro anãozinho para quem o Sr. Calazans só tem elogios, até mesmo quando não os merece, e cuja ausência da Seleção de 2002 levou o bilioso palpiteiro d’O Globo a torcer contra o Brasil.

Dando nome aos bois, mencionaria, ainda, Almir Pernambuquinho, Biguá, Babá, Marcelinho Carioca, Roberto Carlos, Alain Giresse, Saviola e Pablo Aimar. Nenhum deles, na douta opinião do Sr. Calazans, tem estatura para ser grande coisa.

Existem alguns lugares-comuns sobre o futebol que encerram verdades profundas, inapeláveis. Um deles é o de que este é o mais democrático dos esportes, que permite a um anão como Maradona olhar de cima super-homens arianos e salubérrimos súditos do Império Britânico, ou a um sujeito feio e torto como Mané Garrincha driblar com a maior desfaçatez sólidos soviéticos de futebol científico, nórdicos prósperos e bem alimentados e ainda chamar todo o mundo de João.

A despeito de sua impressionante capacidade de botar no papel quase tudo quanto é lugar-comum sobre futebol, parece que este escapou por completo ao Sr. Calazans.

(Meus agradecimentos ao Juan Saavedra pela paciência com que escarafunchou seus arquivos e tirou da cartola as estaturas de Giresse, Saviola e Aimar.)

12 de jun. de 2003

VACAS SAGRADAS E BESTAS QUADRADAS

Não estou com o melhor humor do mundo para escrever. Do jogo, comento muito pouco. Quero apenas registrar meu emputecimento com o comportamento, de domingo para cá, de algumas vacas sagradas -- ou bestas quadradas -- da crônica esportiva carioca.

Após o empate com o Cruzeiro no domingo, muita gente boa -- e o Sr. Fernando Calazans -- só faltou pedir a cabeça do Nelsinho numa bandeja, com uma maçã na boca, pela postura defensiva do time no Maracanã. Para mim, a disposição do Flamengo em campo, no domingo, foi decorrência lógica de uma correta avaliação de nossas evidentes limitações técnicas e das superiores virtudes do adversário. Para o Sr. Calazans, foi “covardia”, “culpa exclusiva do técnico”, afinal, “o Flamengo é muito maior que aquilo”.

Minha avaliação é que, depois das goleadas no Paraná, o Nelsinho fraquejou. O técnico que esbanjava autoridade há uns dois meses sentiu a seringa chegar-lhe ao cu e resolveu dar ouvidos aos palpites azedos dessa gente. Resultado: atendendo a pedidos, armou um time lindo, leve e solto para a finalíssima e olha aí a trolha que levamos.

Passo ao largo dos outros críticos cuja ênfase contribuiu para que o Nelsinho escalasse o time que escalou, ontem. Como eu disse, tinha gente boa ali, gente que entende de futebol. Quero concentrar-me no Sr. Calazans. Acho, sinceramente, inexplicável como um cretino dessa categoria continua ocupando o espaço que ocupa num dos maiores jornais do país, arrotando obviedades e eximindo-se de sua obrigação de analisar os fatos com realismo.

Sua incapacidade crônica para assimilar as mudanças por que passou o futebol de umas décadas para cá leva-o a proclamar estupidezes solenes como aquela de que a Seleção do Felipão daria um vexame maior do que o de 1966 -- voltou penta. Ou de que o Flamengo, por ser o Flamengo, não pode tomar as devidas precauções defensivas para enfrentar um Cruzeiro evidentemente superior.

A realidade vem, indefectivelmente, tratando de demonstrar que o Sr. Calazans não entende porra nenhuma de futebol. Para o bem (como no caso do Felipão) e para o mal (como na derrota de ontem).

O que é lamentável, acima de tudo, é que os palpites azedos de uma besta quadrada como o Sr. Calazans possam ter influído na perda do título. Depois das coisas lunáticas que escreveu a respeito da Seleção do Felipão, ninguém mais devia dar ouvidos a esse cavalheiro.

22 de mai. de 2003

ÀS FAVAS O FAIR PLAY

Dizem as regras do fair play que, além de saber perder com elegância, é preciso saber ganhar com graça. Às vezes acho a segunda parte mais difícil de cumprir do que a primeira, sobretudo quando o adversário nos surpreende com um injustificável clima de guerra como o que se viu ontem na Ilha do Retiro.

Peço desculpas, então, se não sigo à risca as regras do fair play e me permito tripudiar um pouco mais do Sport Recife, desenvolvendo três pensamentos que me vieram à cabeça.

1) Li neste blog que algum doido furioso fez um levantamento qualquer e concluiu que o Sport é "um dos cinco clubes mais bem administrados da América Latina".

Na minha terra, ser rebaixado para a segunda divisão é sinal de péssima administração. Parece que em Pernambuco, não. A não ser que se trate de uma estratégia a médio prazo para tornar a conquistar a segundona e, mais uma vez, posar injustificadamente de campeão do Brasil.

É que, lá em Pernambuco, título da segundona justifica estrelinha na camisa.

2) Falar em estrelinha, o Sr. Fred Domingos andou insinuando por aí que o Flamengo tem quatro estrelinhas brancas na camisa porque admitia que o título de 1987 foi do Sport, ou porque sei lá que forças superiores o impediriam de bordar a quinta.

Duas considerações: primeiro, seria lícito esperar do Sr. Domingos um pouco mais de conhecimento do Manto Sagrado, já que o Sport tem o péssimo hábito de imitar o uniforme do Flamengo. As quatro estrelinhas na camisa do Flamengo dizem respeito aos quatro tricampeonatos cariocas conquistados pelo clube, cada um deles, aliás, incomensuravelmente mais valioso que um Módulo Amarelo.

Segundo, ninguém impede ninguém de bordar na camisa quantas estrelas quiser. Não fosse assim, alguma entidade superior já tinha proibido o Vasco de jogar com a camisa pontilhada de dezoito estrelas que não valem porra nenhuma. Parece que lá até título de purrinha justifica uma estrelinha (o que não é muito mais grave do que bordar uma por causa do Módulo Amarelo).

3) Por fim, insisto em que foi incompreensível o clima de guerra com que a torcida do Sport recebeu o Flamengo ontem. Dir-se-ia que o espúrio título de 1987 é a única coisa a sustentar a auto-estima periclitante dessa gente.


21 de mai. de 2003

NO MUNDO DA FICÇÃO

Ontem, conversando com meu amigo Gustavo de Almeida, chegamos, ambos, à conclusão de que estamos perdendo tempo demais escrevendo sobre polêmicas inexistentes, sobre questões que só existem nas cabeças desajustadas de uma meia dúzia de casos clínicos. Nos últimos dias, tive de gastar o meu latim pelo menos duas vezes no exercício fastidioso de demonstrar o óbvio: que a torcida do Flamengo é a maior do Brasil e que o Zico não foi “jogador de Maracanã”.

Seria inconcebível, numa sociedade saudável, que senhores atarefados como nós outros tivessem de gastar trinta, quarenta minutos de seu dia emitindo opiniões sobre o óbvio. É como se eu tivesse de parar tudo o que estou fazendo para redigir um artigo demonstrando cabalmente que, acima de zero grau, o gelo derrete, ou que os corpos de maior massa atraem os de menor massa.

Mas um país onde qualquer Alec Duarte pode emitir seus palpites azedos em jornais de grande circulação, onde um sujeitinho ignóbil como Jorge Kajuru fala e as pessoas ouvem, onde se respeitam as opiniões de um pulha do quilate de Milton Neves -- um país assim não pode ser um país sério.

Hoje, eis-me aqui parando tudo o que tinha para fazer para escrever sobre o óbvio de novo. Tudo por conta de outra nulidade, outro zé-ninguém que se fez ouvir e que teve seu arrazoado incongruente publicado pela imprensa de todo o país. Trata-se, desta vez, de um cavalheiro que atende pelo nome de Fred Domingos e que, além da desdita de ser Fred Domingos, ainda padece do infortúnio de ser diretor de futebol do Sport Recife.

Mais uma vez a pretensão absurda do Sport Recife de ser reconhecido como o campeão brasileiro de 1987. Já não há muito o que dizer sobre o assunto. Campeão do Brasil é o time que se sentiu campeão do Brasil ao término de 90 minutos, é o time cuja torcida comemorou sinceramente o título após o apito final. É o time cuja glória foi testemunhada pela torcida brasileira, comemorada pela torcida própria e amaldiçoada pelas torcidas adversárias, diga a CBF o que disser.

Em 1987, esse time foi o Flamengo. Foi -- para usar a fórmula lapidar de Juca Kfouri -- “o melhor de um campeonato entre os melhores”, foi campeão diante de cem mil pessoas, teve sua glória testemunhada por um Franz Beckenbauer (que não sairia de seu hotel debaixo daquele aguaceiro todo para testemunhar um fato intranscendente) e por milhões de telespectadores Brasil afora.

O Sport, por seu turno, jogou um jogo que ninguém viu contra o Guarani, que a Globo não transmitiu, que não provocou um único bocejo do torcedor brasileiro, que nem sabia que àquela altura ainda tinha campeonato em andamento no Brasil (na cabeça do torcedor, a temporada terminou em 13 de dezembro, data da conquista do Flamengo). E, como se tudo isso não fosse demérito suficiente, ainda resolveu dividir o título com essa potência do futebol pátrio que é o Guarani de Campinas.

Mesmo diante de fatos tão límpidos, tão inequívocos, é óbvio que sempre haverá os espíritos-de-porco que se agarrarão a qualquer desculpa esfarrapada para contestar a glória do Flamengo. Não os culpo, eu faria a mesma coisa. E a desculpa esfarrapada que os assiste é o fato de a CBF do impoluto Nabi Abi Chedid ter declarado o Sport campeão do Brasil.

Deixando de lado o fato de essa decisão ter-se pautado por critérios meramente políticos -- a CBF estava desesperada para cortar as asinhas dos grandes clubes do Brasil, que subitamente descobriram que não precisavam dela para nada --, centrando-me tão-somente no mérito da decisão, eis o que posso argumentar em defesa do óbvio: o campeão do Brasil é quem o povo reconhece como tal, e não quem tem seu nome escrito num livrinho empoeirado num arquivo na Rua da Alfândega.

Uma decisão que ignore isso é como a ordem daquele rei do Pequeno Príncipe que determinava ao sol que nascesse a oeste ou que as estrelas deixassem de brilhar. Não é nem inválida, não é nem nula de pleno direito -- é uma decisão inexistente.

Inexistente como as polêmicas que me têm ocupado de uns tempos para cá.

15 de mai. de 2003

TIREN PAPELITOS, MUCHACHOS



Y muchísimas gracias, che.


MAIS ALEC DUARTE

Problemas técnicos com The Blog -- que me fazem, cada vez mais, achar graça no artigo definido no nome deste serviço -- impediram-me de manter meus três leitores informados de minha correspondência com o Sr. Alec Duarte (ver post abaixo). Enfim, atualizo só para fins de registro.

Logo depois de receber, por e-mail, o meu post "As sandices dum tal Alec Duarte", o palpiteiro da Folha me mandou a seguinte respostinha sebosa:

Caro, obrigado pela mensagem e pela participação.

Eu apenas gostaria de reiterar que a homenagem em seu blog é injusta, posto que em nenhum momento emiti juízo de valor sobre o assunto. Apenas registrei que o próprio Zico, em sua autobiografia, tratava a questão de forma contraditória.

Não houve palpite nem tão pouco opinião.

Um forte abraço
ALEC DUARTE


(Sic, sic, sic.)

Mandei-lhe resposta mostrando-lhe que, muitas vezes, a simples escolha de um tema implica tomada de posição do autor -- sobretudo a escolha de um tema morto e enterrado como esse --, ainda que a opinião do autor não venha expressa em gráficos coloridos para o leitor da Folha entender.

Dei-lhe, ainda, uma oportunidade de fazer conhecer sua opinião sobre esse tema, ao perguntar-lhe, na lata: afinal de contas, o senhor acha ou não que o Zico foi "jogador de Maracanã"?

Até agora não obtive resposta.

7 de mai. de 2003

AS SANDICES DUM TAL ALEC DUARTE

Que a Folha de São Paulo é um jornal para débil mental é coisa que ninguém em sã consciência questiona. Desde que me entendo por gente, o pasquim paulistano sempre se pautou pela regra do mínimo denominador comum: para ser o “maior jornal do país”, é preciso atingir o maior número de leitores; para atingir o maior número de leitores, tudo o que se escrevinha na Folha deve ser acessível à inteligência mediana -- na nossa como em qualquer sociedade, um mero eufemismo para ignorância mediana.

Essa política da Folha traduz-se, no conteúdo do pasquim, numa infinidade de idiossincrasias bastante irritantes para quem estiver um pouquinho acima do mínimo denominador comum. É a determinação cretina de que não conste da primeira página um único período composto; são os gráficos imbecis que pretendem reduzir todos os aspectos de realidades complexas a factóides facilmente absorvíveis pela massa ignara; são as abundantes referências a cifras e estatísticas que, na cabeça simplória do leitor da Folha, sacramentam qualquer estultice decretada pela antipática equipe do Sr. Otávio Frias Filho. (O leitor da Folha sente temor reverencial por qualquer coisa expressa em algarismos arábicos e ignora a advertência de Delfim Netto: “estatísticas são como o biquíni: o que mostram é interessante, mas o que escondem é fundamental”.)

Que um jornal tão porcamente redigido e editado ainda abra espaço a alguns dos mais opiniáticos, self-righteous (o português não me basta para descrever essa choldra) e viadinhos colunistas da imprensa brasileira é fato que só vem tornar mais grave o estado de coisas descrito acima.

Não é de se estranhar, portanto, que, com o escrete que a Folha abriga e remunera, o jornal acolha de braços abertos um Alec Duarte. Para mim, um ilustre desconhecido até hoje, quando me chegou às mãos um texto perpetrado por esse cavalheiro (“Afinal, Zico era ou não era?”). Nesta singela maravilha da arte do palpite azedo, o Sr. Duarte esmera-se naquilo que Nelson Rodrigues chamou de “opinião de torcedor do Bonsucesso” -- opiniões que ninguém provido de um mínimo de sentido comum levaria em consideração, e que uma sociedade sadia jamais permitiria serem impressas no “maior jornal do país”.

To cut a long story short... o Sr. Duarte pretende ressuscitar a polêmica -- outrora tão alimentada pela paroquial imprensa paulistana, e enterrada lá se vão uns vinte anos -- sobre se Zico era ou não “jogador de Maracanã”. E, para fundamentar a opinião cretina que ele deixa patente com a simples escolha de tema tão anacrônico para sua coluna, o Sr. Duarte saiu-se com a seguinte -- e, no caso da Folha, indefectível -- estatística. Zico marcou 49,85% dos seus gols no Maracanã (com casas decimais e tudo!). Ergo, é jogador de Maracanã.

Deixando de lado a constatação óbvia de que, se 49,85% dos gols foram marcados no Maior do Mundo, 50,15% (a maioria absoluta) não o foram (ora, pois!), fico cá imaginando que, se alguém se dispusesse a fazer semelhante levantamento estéril sobre os gols de, digamos, Garrincha, chegaria a conclusão muito parecida sobre o Mané: que era jogador de Maracanã. Faça-se o mesmo com qualquer jogador de um clube só (ou predominantemente de um clube) e, por uma fatalidade matemática, chega-se a conclusões semelhantes: Eusébio é jogador do Estádio da Luz, George Best é jogador de Old Trafford, Obdulio Varela foi jogador de Centenario, Arsenio Érico e Bochini são jogadores de Doble Visera, Labruna é jogador de Monumental e assim por diante. Por quanto tempo é preciso prosseguir para que o Sr. Duarte se convença da sandice que publicou?

Eu disse, alhures, que, para mim, a liberdade de opinião é um direito sacrossanto. Não me escandaliza que o Sr. Duarte tenha as opiniões que tem. O que me escandaliza, sim, é que o “maior jornal do país” tenha a desfaçatez de publicar esse arrazoado incongruente como se de bom jornalismo se tratasse.

27 de abr. de 2003

FLAMENGO x CURINTCHA, RIO x SÃO PAULO



Amanhã tem Flamengo x Curintcha. Por particularidades da história do futebol brasileiro, o clássico não desperta todas as atenções que justificaria. Noutras latitudes, o superclássico, aquele para o qual os torcedores se preparam psicologicamente um semestre inteiro, costuma ser o jogo entre os maiores clubes das duas principais cidades do país. Real Madrid x Barcelona é apenas o exemplo mais óbvio. Também é o caso de Benfica x Porto, Arsenal x Manchester United, Paris Saint Germain x Olympique de Marselha (o clube do coração de todos os meridionais).

No Brasil, pela descentralização em que se desenvolveu nosso futebol, as rivalidades são, antes, locais. Superclássico é Fla-Flu, é Grenal, é Curintcha x Parmera.

Mas, embora encarado como mais um jogo do calendário, Flamengo x Curintcha é mais que um clássico. É o confronto entre dois modos de vida, entre duas concepções distintas e não raro antagônicas da vida e do Brasil.

Por conta dessa descentralização, muito rubro-negro nutre simpatias pelo Curintcha, por ser o clube do povão de São Paulo, e pelos mesmos motivos muito curintchano gosta do Flamengo. Não assim o Tinhorão. Não tenho a mais mínima simpatia pelas cores (or lack thereof) do Curintcha. Não gosto de seus ídolos (Vladimires e Biros-Biros e Pequenos Polegares), não desgosto de seus inimigos e não acho a menor graça em sua torcida.

Certa vez, no início dos anos 90, vendo um jogo qualquer do Curintcha pela TV, ouço uma algaravia indecifrável vindo das arquibancadas. Apuro o ouvido e mal consigo discernir que se trata apenas de uma vogal, um O prolongado até a torcida perder o fôlego. A coisa mais sem graça que já ouvi num estádio. Tempos depois, no Maracanã, ouço a torcida do Flamengo, feliz com o time, cantar com toda a ginga, com a pura intuição musical do carioca a melodia de Runaround Sue (um twist do Chubby Checker). Uma coisa linda aquelas trinta, quarenta mil vozes cantando, não um, mas todos os Os do mesmíssimo refrão.

E essa pequena diferença, senhores, diz muito sobre as torcidas de Flamengo e Curintcha. Nos anos 80, quando Zico, Júnior e Leandro punham os adversários na roda, nós dávamos a trilha sonora com Bumbum Paticundum Prugurundum. Todo o mundo sabia a letra, todo o mundo cantava no ritmo, todo o mundo pulava no compasso. Quando conquistamos nosso último título nacional, em 1992, todo o mundo cantava o samba da Mocidade -- Sonhar não custa nada / E o meu sonho é tão real -- enquanto nosso sonho ia concretizando-se ali, na nossa frente, nos pés hábeis de Júnior, na raça do infatigável Nélio, nas cabeçadas mortais do Gaúcho.

Do outro lado, além de uma vogal prolongada até se perder a voz, o que é que canta a torcida do Curintcha quando o time joga bem e ela esquece, por um breve momento, que mora em São Paulo, que na volta tem engarrafamento debaixo de uma garoa de merda, que de noite tem as sobras do frango com macarronada? Ela jura que canta samba, senhores! Mas canta com a mesma intimidade com que canta o twist do Chubby Checker. “Me dê a mão / Me abraça”... Uma merda, um lixo! Fosse no Rio, com esse sambinha e esse desfile, a escola seria rebaixada do Grupo de Acesso.

Sei que estou cansando meus três leitores com essas divagações e, por isso, não quero alongar-me no que faz de Flamengo x Curintcha o duelo de duas concepções opostas da vida e do Brasil. Com essas considerações musicais, apenas esboço o que eu queria dizer.

Digo só mais uma coisa: ultimamente, essa torcida que não sabe torcer tem tido o topete de se comparar à nossa, alardeia aos quatro ventos que é a maior do Brasil. Não é verdade, e os números bem o demonstram. Mas é fato que, de uns dez anos para cá, começou a acontecer essa coisa inusitada: muita gente de fora de São Paulo passou a torcer para os times de lá. Até então, Curintcha e Parmera só tinham torcida em seu estado. O resto do Brasil dividia-se entre os times locais e os do Rio. Não sei bem o que dizer sobre isso. Digo, apenas, que é muito difícil eu me identificar com um país que se identifica com São Paulo.

Deve ser banzo. Estou há tempo demais longe do Rio. E, apesar de tudo o que está acontecendo por lá, apesar dos Garotinhos e do estado de calamidade que eles juram controlar um dia, apesar de tudo estou morrendo de saudade.

Preciso urgentemente ir ao Maracanã.

21 de abr. de 2003

CONSIDERAÇÕES SOBRE O GALO



Quando eu despertei para o futebol, um dos fatos que mais chamavam a minha atenção era a singular aptidão que tinha o Clube Atlético Mineiro para se foder de verde e amarelo -- ou de preto e branco, como queiram. Era a época do maior Flamengo de todos os tempos, e Leandro, Júnior, Nunes e Zico fizeram do detestável Galo das Alterosas eterno freguês ressentido do Flamengo.

Seria um exercício inútil enumerar aqui todas as ocasiões em que o Galo chegou para decidir e a massa atleticana -- como, em Beagá, e só em Beagá, se convencionou chamar a torcida do time -- saiu do estádio cabisbaixa e com as insossas bandeirinhas alvinegras enroladas. Nem este post tem por objetivo fazer um levantamento histórico dessa magnitude. Pretende, antes, aventurar-se no terreno batido da psicologia de botequim e esmiuçar as razões pelas quais são tão numerosos os fracassos atleticanos na hora de decidir.

Quem não conhece Beagá como eu conheço há de estar justificadamente surpreso com a pretensão diletante do Tinhorão de se meter em coisa tão complexa como a psicologia coletiva de uma torcida composta por gente das mais variadas condições, classes sociais, preferências sexuais etc. Mas o forasteiro que visita Beagá e trava contato com a torcida do Galo não demora a se convencer de que está diante de um fenômeno psicológico digno de ser estudado em maior profundidade: é a torcida mais ressentida do Brasil, a mais recalcada, a mais invejosa.

Mas não se trata só disso. Essa patologia coletiva engendrou uma outra, muito mais irritante para o forasteiro que queira debater racionalmente com essa gente: à força de tanto se foder, o atleticano acabou convencendo-se de que nada do que lhe aconteça de ruim é culpa de seus jogadores. O Galo é eternamente perseguido, eternamente injustiçado, eternamente sacaneado por uma instituição sinistra que eles denominam o Eixo.

Na cabeça ressentida dessa gente, os dirigentes de Rio e São Paulo (o Eixo em questão é o Eixo Rio-SP) sentam-se regularmente a uma mesa redonda n'algum lugar secreto e inconfessável e comprazem-se em inventar novas fórmulas para sacanear os clubes de fora do Eixo, mas mui especialmente o Galo. Chega a ser comovedor, de tão inocente, imaginar Eurico Miranda atirando-se aos braços de Hélio Ferraz e, juntos, irmanados, comprometerem-se a fazer todos os esforços possíveis para ajudar o maior inimigo se ele disputar o que quer que seja com o Atlético.

Seria apenas mais uma teoria conspiratória entre tantas se não redundasse em conseqüências bastante palpáveis: com o refinamento da teoria, os atleticanos têm sempre à mão uma desculpa infalível a justificar todos os seus fracassos: é tudo culpa do Eixo. O Atlético fez dez pontos a mais que o campeão São Paulo em 1977, e ainda assim teve de decidir nos pênaltis? Culpa do Eixo, que, ao elaborar o regulamento, previu que o Galo ia disparar na frente. O Reinaldo foi expulso por fazer especulações sobre a honestidade da mãe do Sr. José de Assis Aragão, em 1980? Culpa do Eixo. O Palhinha foi expulso na mesma ocasião porque pediu para ser expulso? Culpa do Eixo. O Reinaldo foi expulso no ano seguinte por calçar o Zico por trás? Culpa do Eixo.

E, enquanto o atleticano mergulha nessa auto-complacência que tudo explica como maquinações sinistras de uma entidade fictícia, o cruzeirense trata de trabalhar, aceitar seus próprios fracassos como decorrências de imperfeições suas e vai, ao longo do tempo, acumulando títulos e mais títulos de relevo, entre Copas do Brasil e Copas Libertadores.

Por que isso agora? Porque Cruzeiro e Atlético têm tudo para disparar na frente neste Brasileiro. A minha aposta é que chegou a vez de o Cruzeiro levantar a taça. Num campeonato tão longo, serão inúmeras as oportunidades para o atleticano convencer-se de que o estão sacaneando e mergulhar nesse fatalismo tão típico dele.

Difícil vai ser explicar por que cazzo o Eixo fez do também belo-horizontino Cruzeiro o campeão do Brasil de 2003.

16 de abr. de 2003

SIN PALABRAS

10 de abr. de 2003

O ANTI-RUBRO-NEGRO

Esta semana recomeçaram, pela centésima vez, os rumores de que Romário poderia estar de volta à Gávea.

Talvez seja honesto deixar claro, desde já, que minha percepção sobre este assunto está fortemente condicionada pelo relacionamento que, ao longo dos anos, o anãozinho manteve com nosso ídolo maior.

Quando o Flamengo era o Flamengo e jogar lá era um privilégio, não um favor que nos faziam, seria inconcebível um atleta que desejasse continuar vestindo o Manto sair dizendo desaforos ao Zicão. Chamá-lo “perdedor” porque não ganhou uma Copa do Mundo seria interpretado da única maneira admissível: como um desrespeito supremo ao Clube de Regatas do Flamengo, a sua história, a suas conquistas, a sua torcida. Ofender dessa maneira alguém que ganhou tudo pelo Flamengo, que escreveu o nome do Flamengo na taça de campeão do mundo, seria encarado como pouco caso intolerável à centenária história rubro-negra: os títulos do Flamengo, mesmo os mais importantes, mesmo os que custaram o sangue de seus jogadores, valem pouco ou nada na opinião do débil-mental que diz uma coisa dessas.

Que vá jogar com essa atitude no Fluminense ou no Vasco é problema do Fluminense ou do Vasco. Se quer jogar com essa atitude no maior clube do mundo, que vá para a puta que o pariu. Assim deveria reagir todo rubro-negro consciente e orgulhoso da história de seu clube. Claro, há os imbecis de pai e mãe que, entre Zico e Romário, estão com o anão. Há os calhordas que, diante do corte do nanico da Seleção de 1998, têm o topete de ir ao aeroporto -- com a camisa do Flamengo! -- fazer um teatrinho histérico e rasgar a foto do Zico.

Bem sei que o rapaz em questão levou uns tabefes merecidos numa briga de bar. Mas não foi o único a merecê-los. Existe uma geração perdida, que acompanha futebol de 1993 para cá, para quem o paradigma de craque e ídolo será eternamente o anãozinho vagabundo do Romário, com seu ego inflado e seu desprezo pelas cores que veste. Esses garotos, salvo os que se ilustraram e aprenderam o que é ser Flamengo, também mereciam levar uns safanões em casa. E o Romário, ídolo dessa gente que, ao idolatrá-lo, cospe no símbolo do clube, não devia poder passar nem na calçada de nossa sede.

Existem outras considerações, mais comezinhas, pelas quais não quero esse anão vagabundo na Gávea. Têm a ver com o ambiente de trabalho do clube, que se veria irremediavelmente perturbado com a volta do arruaceiro do Romário, num momento em que o de que o Nelsinho mais precisa é de tempo e tranqüilidade para botar a casa em ordem e montar um time.

Mas, francamente, diante de motivos que têm a ver com a nossa identidade de rubro-negros, nem deveria ser necessário esboçar esses outros argumentos.

7 de abr. de 2003

OLHA O BOZZANO AÍ...

Com o palpite do Gustavo, eu já tinha cantado a pedra aqui, então vangloriemo-nos.

O São Paulo x Cruzeiro de ontem provou que o tal Giuliano Bozzano é um incompetente de marca maior. Não me lembro de ter visto um juiz inventar três pênaltis num único jogo.

Some-se isso ao assalto à mão armada que praticou contra o Flamengo no ano passado e temos o veredito: incompetente e ladrão. Não devia apitar nem futebol de botão.

O TIME DO NELSINHO



As atribulações dos últimos -- quantos? onze? -- anos fizeram de todos nós uns rubro-negros esquisitos. Uns mais, outros menos. Mas quase todos céticos quando fatos concretos, palpáveis, parecem indicar que, com um trabalho sério, a longo prazo, e perseverando naquilo em que temos acertado, podemos recuperar o brilho d’outrora. Pelo menos eu fico cá a imaginar que, no primeiro revés, nossos mui sapientes dirigentes viram tudo de pernas para o ar e abandonam o caminho reto.

Exemplo do que estou dizendo: quantos técnicos de primeira linha tivemos de 1992 para cá? Dois: Luxemburgo e -- sei que o nome causará polêmica -- Autuori. (Que me perdoem Carlinhos, Zagallo e Evaristo, que muito estimo. Mas os dois últimos, digamos assim, há tempos não falam a mesma língua dos atletas que comandam. E os sucessos do primeiro explicam-se mais pela mística rubro-negra do que por seus postulados táticos.)

Quanto duraram? Seis meses, se tanto. Um, demitido estupidamente após a derrota no Fla-Flu de 1995, num gesto bastante ilustrativo dos horizontes de curto prazo com que trabalhava o Sr. Kléber Leite. O outro teve a sua autoridade corroída pelo corpo mole de alguns atletas, comportamento criminoso que nos rendeu várias humilhações. Em ambos os casos, um certo anão pernicioso foi protagonista no jogo de bastidores que levou à queda do técnico.

Eis que, pela primeira vez desde 1997, voltamos a ter um técnico de primeira linha: inteligente, estudioso, atualizado e sabe impor sua autoridade.

Ressabiado, fico desesperado quando desconfio que nossos mui sapientes dirigentes podem inadvertidamente ter acertado uma. É o caso com o Nelsinho Batista. Ao vislumbrar pequenos progressos nessas duas semanas de trabalho, sou tomado pelo pessimismo e imagino que não vai durar. A compulsão por fazer merda é mais forte que nossos dirigentes, de Luiz Augusto Velloso para cá.

O Flamengo que venceu o Bahia hoje está longe de ser um Flamengo digno das tradições do Manto. Mas é um Flamengo já a uma distância considerável do bando que dava patadas na bola na derrota de 4 x 0 para o Fluminense.

No jogo de hoje, em mais de uma ocasião acertaram-se mais de três passes em seqüência. Continua-se errando demais, é verdade. Mas, se não é a Seleção Brasileira de 1982, também não é aquela esculhambação do Carioca, quando cada uma das escassas estrelinhas achava que ia resolver tudo sozinho, como Maradona no gol a los ingleses.

No jogo de hoje, eu vi jogadores buscando desmarcar-se, buscando o espaço vazio em vez de esperar desse nosso meio-campo o milagre de um passe do Zico a cada vinte minutos. Se não foi a Laranja Mecânica -- melhor, se não foi o Flamengo dos overlappings e pontos futuros do Coutinho --, também não foi aquele achincalhe do Carioca.

No jogo de hoje, eu vi o lateral esquerdo jogando de lateral esquerdo, o lateral direito jogando de lateral direito e a função de meia armador ser cumprida pelo meia armador. Se não é a aplicação tática da Alemanha de 1990, também não foi o Deus-nos-acuda do Estadual.

Ou seja, em vez de um bando, vi um time (ou o prenúncio de um time). Um time ruim, não nos iludamos. Um time com sérias deficiências na zaga e um time que se ressentirá muito da falta do Athirson ou do Felipe quando eventualmente não puderem jogar. Mas -- não peço muito mais que isso, por ora -- um time.

Um time capaz de, no máximo, fazer um papel decoroso no Brasileiro. Não peço muito mais que isso, por ora. Deixem o Nelsinho trabalhar. Um, dois anos, se for preciso. Mas não me venham com soluções bombásticas quando, depois das primeiras vitórias e do indefectível triunfalismo precipitado da nossa torcida, vierem as primeiras decepções e nos dermos conta de que esse, senhores, é um time ruim.

É que, com o perdão do lugar-comum, toda longa viagem começa com o primeiro passo. E o mal do Flamengo, de 1993 para cá, tem sido primeiros passos demais e longas viagens de menos.

4 de abr. de 2003

ARMANDINHO E GIULIANO

Antes de botar no ar este blog, quando minhas manifestações sobre futebol se restringiam aos botequins da vida e listas de discussão na internet, muita gente boa -- e outra não tão boa -- especulava sobre a idade do Tinhorão. A dúvida foi sanada com o post (ver abaixo) Eleven years tomorrow (que, aliás, só não se chamou Onze anos esta tarde, em vernáculo, por causa dessa minha maldita mania de exatidão).

Digo isso para contextualizar a seguinte afirmação: eu fico genuinamente surpreso quando ouço gente qualificada, insuspeita mesmo, dizer que o melhor árbitro que viu apitar foi Armando Marques. Não tenho idade para ter visto o Sr. Marques trilar o apito, distribuir cartões e fazer trejeitos (trejeitos de árbitro, não me entendam mal), mas volta e meia vejo o seu nome mencionado na historiografia futebolística nacional. Sempre por alguma trapalhada que ele aprontou.

Armando Marques foi o juiz que, na disputa de pênaltis que definiria o campeão paulista de 1973, errou uma conta que qualquer criança de dez anos saberia fazer. Por causa disso, Santos e Portuguesa tiveram de dividir o título. Dois anos antes, Armando Marques invalidou um gol legítimo de Leivinha, do Palmeiras, com o argumento inacreditável de que o atacante deu um soco na bola, e não uma cabeçada. Por causa disso, o São Paulo ficou com o troféu. Em 1974, entre outras mumunhas, anulou um gol escandalosamente legítimo do cruzeirense Zé Carlos, aos 45 do segundo tempo, e, com essa ajudinha, o Vasco conquistou seu primeiro Brasileiro roubado.

Como pode ter sido o melhor juiz do Brasil um sujeito com esse histórico -- aliás, prontuário -- é coisa que escapa à minha limitada imaginação.

As trapalhadas do Sr. Armando Marques não terminaram quando ele pendurou o apito. Dirigindo a Comissão de Arbitragem da CBF, é figurinha freqüente no noticiário esportivo, sempre que o foco deste é desviado do campo de jogo para essa choldra que se convencionou chamar "dirigentes".

A notícia que me chega pelo Gustavo deveria novamente botar o Sr. Armando Marques sob os holofotes, e novamente por uma trapalhada sua. Pois não é que a Comissão de Arbitragem resolveu escalar, para apitar o jogo mais importante da próxima rodada -- São Paulo x Cruzeiro, Oswaldo de Oliveira x Wanderley Luxemburgo --, ninguém mais, ninguém menos do que Giuliano Bozzano?

Giuliano Bozzano, aquele mesmo que roubou o Flamengo contra o Palmeiras, ano passado. Digo roubou e insisto no termo: roubou. Erros daquela magnitude, e em momentos tão determinantes, são algo mais que simples erros.

O Gustavo tem razão: o Sr. Giuliano Bozzano ainda vai dar muito o que falar neste Brasileiro.

2 de abr. de 2003

INTERVALO COMERCIAL

Escrevo mui rapidamente, entretido como estou com assuntos outros, fascinantes, de resto, que se acumulam sobre a minha mesa.

Meu colega Gustavo de Almeida -- uma alma arguta, o primeiro a reconhecer de público a isenção e a imparcialidade deste analista -- acaba de pôr no ar seu blog Nove Meses, com análises quase diárias sobre este campeonato do tamanho duma gravidez.

Muito mais à vontade para falar do que o Tinhorão -- que tomou um esporro da esposa ao fazer menção de ver Curintcha x Atlético após o término de Flamengo x Coritiba --, atentou para um fato que me escapou por completo: Giuliano Bozzano está apitando!

Giuliano Bozzano, aquele mesmo canalha que garfou o Flamengo no jogo contra o Palmeiras, no último Brasileiro. Que cuernos está fazendo trilando um apito depois daquele assalto à mão armada eu não sei. Talvez o Sr. Armando Marques possa explicar.

Um amigo catarinense jura que o Sr. Bozzano tem pai, e que o pai também aprontou muito nos campos da terra do pinhão. Pode ter pai, mas aparentemente não tem mãe.

25 de mar. de 2003

OUTRA VEZ O CALAZANS

Calazans, 25/03/2003: "Por falar em papel feio, tivemos também o do ex-presidente da Fifa João Havelange, que criticou João Saldanha e deu sua versão sobre a saída do técnico da seleção em 70, sem que Saldanha possa se defender e dar sua versão também."

No mínimo curiosa a ética do Sr. Calazans. O Sr. João Havelange é deselegante por fazer críticas a quem não pode mais se defender. Ele próprio pode criticar quem bem entender, nos termos que julgar convenientes, e jamais abrirá espaço para o ofendido manifestar-se. E não pede desculpas quando todas as evidências demonstram que está errado.

Ou será que eu perdi a coluna em que ele pede desculpas ao Felipão pelas críticas incivilizadas que fez ao técnico pentacampeão do mundo, ao técnico que provou, ao trazer o caneco, que seus métodos de trabalho frutificaram, a despeito das restrições imbecis do Sr. Calazans? Quem não se lembra da ironiazinha barata contra a "família Scolari"?

Isso para não falar da pretensão imbecil de dar por encerrado um capítulo da história pelo simples fato de um dos envolvidos estar morto. Onde estaria a historiografia se todos os personagens históricos seguissem a orientação cretina do Sr. Calazans e se abstivessem de escrever memórias e dar depoimentos porque morreram outros participantes do evento em questão?

Churchill jamais poderia ter escrito suas memórias da Segunda Guerra Mundial. Hitler não podia defender-se.

24 de mar. de 2003

JUÍZES SEM APITO

Mais uma vez, os amigos hão de me perdoar se insisto no assunto penoso da arbitragem. É que, mais uma vez, as patuscadas da arbitragem (desta feita de responsabilidade do Sr. Samir Yarak) ofuscaram os acontecimentos puramente futebolísticos -- numa decisão! Ofuscaram até gol que começou com cruzamento de letra.

Pode ser dolorida, mas é instrutiva a comparação com a final paulista. Lá, como aqui, juiz também erra, ora, pois. No primeiro jogo da final, validou-se um gol do Curintcha em impedimento. A diferença está em que, lá, erros da arbitragem são encarados como decorrências naturais da humana condição dos homens de preto. No Rio, parte-se do pressuposto -- compreensível e provavelmente correto -- de que o homem de preto está de sacanagem. E, a cada gol mal anulado ou mal referendado, o que se vê é esse espetáculo deprimente de jogadores dando cabeçadas em juízes e falando com eles como não se deveria falar nem com filho adolescente.

O diabo é que as circunstâncias me impedem de censurar um Alex Oliveira que peita um bandeirinha ou um Athirson que passa noventa minutos com o dedo na cara do Sr. Carlos Jorge Moreira. Os jogadores, remunerados para ganhar com a bola nos pés, cansaram-se de ver seus esforços sistematicamente frustrados por juízes escolhidos a dedo pelo Sr. Eduardo Viana. Resultado: hoje já não é mais tão simples um juiz arranjar um resultado. Carlos Jorge Moreira conseguiu na final da Taça Guanabara, mas teve sua arbitragem inviabilizada pelos rubro-negros emputecidos na semifinal. Pode até ser escalado e entrar em campo, mas não apita mais jogo do Flamengo -- entendendo-se "apitar" por decidir e fazer respeitar suas decisões durante os noventa minutos.

Não sei se Samir Yarak entrou em campo com más intenções, ontem, se anulou de sacanagem o primeiro gol tricolor, mas o fato é que, a partir daquele lance, não teria mais autoridade para decidir a seu alvitre. Tanto foi questionado, tanto foi pressionado, tanto foi ofendido pelos tricolores, que passou a temer qualquer decisão que prejudicasse o Fluminense. Com esse estado de espítito, inverteu a mais bisonha das faltas, na defesa tricolor, e indispôs-se definitivamente com os vascaínos, a quem havia beneficiado no começo do jogo.

Não sei se é irremediável a cegueira que impede os cariocas de ver o que está acontecendo. Mesmo sem a torcida do Flamengo, o Maracanã estava lindo, ontem, com as duas torcidas cantando. Mas o resto do Brasil, senhores, está acompanhando com muito mais atenção um reles Curintcha x São Paulo. Corremos o risco palpável de ver as novas gerações viverem sob a influência dessa gente que pendura nas arquibancadas faixas de Tucuruvi ou que vem ao estádio em caravanas de Pindamonhangaba e Itaquaquecetuba. Dessa gente que pula ao ritmo de uma escola de samba que, no Rio, seria rebaixada do Grupo de Acesso.

São Paulo terá seu Farah, terá seus erros, terá dirigentes que multem em R$ 50 mil um jogador por exercer o sacrossanto direito à liberdade de expressão, direito que assiste até a um Vampeta. Mas, por aquelas bandas, não se constroem resultados com a mesma sem-cerimônia que no Rio.

E, por compreensível que seja o jogador cansar-se e emputecer-se, o torcedor não gosta de barraco. Prefere assistir a um reles Curintcha x São Paulo, com as faixas de Tucuruvi e Pindamonhangaba, a um Fluminense x Vasco com todo o charme de um domingo à tarde num Maracanã lindíssimo.

Tivessem um mínimo de visão, os cariocas teriam acordado para fatos tão graves. Mas o que se vê é o vascaíno bater palmas para um sacripanta, um dos maiores responsáveis por esse estado de coisas, arrotando méritos próprios ao conquistar um campeonato cujo charme ajudou a destruir.

20 de mar. de 2003

MAIS CARLOS JORGE MOREIRA

Desculpem-me os amigos se não falo do Fluminense x Vasco de ontem. Mas a imparcialidade deste blog é tamanha que eu não vou falar de uma simples final de campeonato, só porque ela vem atraindo os holofotes, e vou concentrar-me no fato muito mais transcendente de o Flamengo não estar disputando essa final.

Aliás, nem isso. Insisto em que foi merecidíssima a vitória tricolor. O fato é que eu ainda não me conformei com a escalação de Carlos Jorge Moreira no jogo contra o Vasco e -- os crápulas reincidem -- contra o Fluminense.

Sem querer fazer propaganda -- o que, aliás, deve ser contra as normas de uso deste blog --, o Google é uma ferramenta duccaraglio! Escrevi, lá, "Carlos Jorge Moreira", e eis que se me apresenta toda a vida pregressa do cidadão. Transcrevo, aqui, o que encontrei de mais interessante.

Em sua coluna n'O Dia
de 18 de março de 2003, Arnaldo César Coelho escreveu o seguinte sobre Carlos Jorge Moreira: "Mas nas poucas vezes que o vi apitar –- geralmente em São Januário -– sinto que esta tarefa não é das mais fáceis. Além de lhe faltar vocação, precisa ser orientado para se colocar melhor no gramado, já que fica muito embolado com os jogadores no meio do campo. E de tanto rodar feito um pião, acaba ficando tonto, deixando de marcar algumas faltas e invertendo outras, irritando a todos. [...] Quem sabe de tanto atuar, ele não acaba aprendendo?"

No dia 22/08/2001, o Jornal de Piracicaba, em matéria sobre o jogo XV 1 x 0 Londrina, publicou o seguinte: "Dois minutos depois o árbitro Carlos Jorge Moreira não marcou um pênalti claro quando André Pinto foi derrubado por Carlos Eduardo, dentro da grande área."

Em 19/11/2001, o Jornal do Commercio, do Recife, denunciou o seguinte: "No vestiário, o técnico alvirrubro, Paulo Cabrera, não escondia a frustração com a arbitragem do carioca Carlos Jorge Moreira e os seus assistentes paraenses Jorge Brasil Mourão e Edílson Ferraz. 'Jogamos contra a arbitragem e a Tuna. Não sou de reclamar, mas os erros na marcação de alguns impedimentos inexistentes nos prejudicaram', declarou."

19 de março de 2002, site do Terra: "Na partida entre as equipes pelo Caixão-2002, há pouco menos de um mês, o Americano venceu o América, por 2 a 0, em Édson Passos, num jogo marcado por contestações à arbitragem e agressões ao juiz Carlos Jorge Moreira." (Coisa curiosa: contestações à arbitragem num jogo vencido pelo Americano de Campos!)

Mais Terra Esportes (08/04/2002): "O Fluminense vencia a partida contra o Bangu até os 42 minutos do segundo tempo por 1 a 0, neste domingo, em Moça Bonita, mas acabou cedendo o empate e perdendo dois pontos importantes na Taça Rio." Pois bem: o Fluminense leva um gol do Bangu aos 42 do segundo tempo. O que faz o juiz? "O árbitro Carlos Jorge Moreira deu quase dez minutos de acréscimo, mas o Fluminense não teve forças para desempatar."

Lance, 11/05/2000: "Em uma partida sofrível, o Botafogo jogou mal, mas o suficiente para derrotar o América por 1 a 0." Agora é o Botafogo contra um pequeno -- ou contra um mais pequeno --, e sofrendo para vencer. Lance: "O árbitro Carlos Jorge Moreira assinalou impedimento, equivocadamente, pois Váldson dava condição ao atacante."

Não, não é porque o América é mais pequeno: "No minuto seguinte, o Botafogo teve um gol anulado em um lance duvidoso."

Tribuna do Norte, sei lá quando: "Em uma boa exibição, o Fluminense derrotou o Vasco por 1 a 0 - gol de Roger - ontem á tarde, e deu mais emoção à disputa da Taça Rio." Boa exibição mesmo. Jogou contra o Vasco e contra o juiz: "Logo a 1 minuto, Roger puxou contra-ataque e rolou na esquerda para Agnaldo, que tentou o lançamento para Magno Alves. Mauro Galvão cortou com a mão e o árbitro Carlos Jorge Moreira não marcou o pênalti." (Coisa inusitada, Carlos Jorge Moreira roubando para o Vasco!) Tem mais: "Carlos Jorge ainda pecava na parte disciplinar, quando deveria ter expulsado Felipe ainda no primeiro tempo, por uma entrada violenta em Roger." Felipe jogava onde? No Vasco.

Ainda tinha mais, mas minha paciência acabou.

As notas transcritas provam que Carlos Jorge Moreira é péssimo juiz, não provam que é ladrão. Mas a Federação do Caixa d'Água sabia que ele era péssimo e o escalou para dois jogos de suma importância. E isso, meus negos, deve querer dizer alguma coisa.

19 de mar. de 2003

Tem dias em que falta ânimo para escrever. Tem sido assim desde sábado.

Há algo no mínimo curioso acontecendo quando um árbitro, sem ter influído diretamente no resultado do jogo, torna-se a estrela do espetáculo. Foi o que se viu no Fla-Flu. O Sr. Carlos Jorge Moreira protagonizou um dos espetáculos mais tristes de que se tem notícia na história do futebol carioca. Não influiu diretamente no resultado, não apitou nenhum pênalti inexistente, não validou nenhum gol ilegal e, assim mesmo, foi a grande atração da tarde.

É bom que se diga desde já: foi justíssima a vitória e a goleada do Fluminense. Não fez mais porque não quis. Os tricolores hão de se lembrar para sempre do show proporcionado por seus jogadores. Mas os demais torcedores hão de se lembrar de Carlos Jorge Moreira. De Carlos Jorge Moreira ouvindo, com o rabinho entre as pernas, os impropérios de Athirson ao longo dos noventa minutos. De Carlos Jorge Moreira tremendo de medo quando Alessandro, expulso, encarou-o e disse para o Brasil todo ouvir: "Você é um merda!"

Impossível imaginar tal espetáculo de pusilanimidade sem que Carlos Jorge Moreira tivesse alguma culpa no cartório. Como não beneficiou o Fluminense, como já foi encostado na parede e desrespeitado, sem tomar maiores providências, quando o jogo ainda estava 0 x 0, é de se imaginar que seus pecados sejam anteriores ao Fla-Flu. Com efeito, a covardia do Sr. Carlos Jorge Moreira, no sábado, é um atestado de culpa pela roubalheira da final da Taça Guanabara.

Não fosse assim, como poderia um homem que honra o que tem entre as pernas aceitar passivamente os urros de Athirson e as ofensas de Alessandro? Como poderia intimidar-se tanto a ponto de tentar flagrantemente apaziguar os jogadores do Flamengo, permitindo aos rubro-negros cobrar as faltas cometidas por eles próprios? Não foi o que se viu no final do jogo, quando Júlio César saiu driblando até a intermediária do Fluminense e, desarmado, jogou todo o seu peso contra um defensor tricolor?

A única resposta plausível para essas perguntas é que o Sr. Carlos Jorge Moreira tinha antigos pecados a expiar. Confrontado com um acusador tão veemente como Athirson, o larápio perdeu completamente a ascendência que torna praticável apitar.

Depois do que o Sr. Carlos Jorge Moreira fez no Flamengo x Vasco, tornar a escalá-lo para apitar um jogo do Flamengo seria uma temeridade que só se poderiam permitir os muito burros ou os muito calhordas. E o Sr. Eduardo Vianna obviamente não é burro.

Não é por burrice dele que o futebol carioca foi relegado a esse papel secundário a que se vê restrito hoje. Não é por burrice dele que, este fim de semana, um reles Curintcha x São Paulo (qualquer clássico paulista é reles, sem cor e sem charme) foi um deleite muito maior para os olhos do que -- of all matches! -- um Fla-Flu.

Fosse burro, não estaria há dezessete anos mandando e desmandando no cada vez menos empolgante futebol carioca.

Burros são os que o elegem e reelegem, fazendo definhar a nossa paixão, matando o futebol mais charmoso do mundo. Só que, a partir de um certo ponto, insistir na burrice passa a ser também canalhice.

11 de mar. de 2003

Sei que corro o risco de soar como o Sr. Calazans -- ranheta e jurássico -- ao fazer estas reflexões, mas já avisei alhures que não tenho nada contra o saudosismo, de que sou adepto confesso. Corro, ainda, o risco de me assemelhar ainda mais ao redundante cronista d'O Globo ao compartilhar com vocês um desconforto que está longe de ser original, que é meu e mais de todo o mundo que viveu tempos de um futebol mais poético, mas, what the fuck...

Como é triste ver a torcidinha do Vasco endeusar o Marcelinho.

Que não se me acuse de estar com dor-de-cotovelo pelo fato de o Marcelinho estar defendendo as cores (or lack thereof) do time do subúrbio. É craque, eu não me importaria em absoluto em vê-lo jogar pelo Flamengo, mas, sinceramente, nem eu nem rubro-negro nenhum de minhas relações morria de vontade de vê-lo com o Manto outra vez.

É triste porque, ao longo desses quase dez anos em que o Marcelinho andou jogando naquele arraial de quinze milhões de habitantes, vascaíno nenhum esquecia que era um ex-rubro-negro, e um ex-rubro-negro particularmente nojento para o gosto deles e, admitamos, para o de quase todo o mundo que não torça pelo Curintcha.

Era, para eles, a quintessência do que a Gávea podia produzir de mais detestável -- junto com Paulo Nunes e Júnior Baiano.

E eis que o até então repelente, o repugnante, o asqueroso Marcelinho é o novo xodó da torcidinha vascaína.

Tenho para mim que, desde que o Maestro Júnior pendurou as chuteiras, não existe mais isso de jogador que tem a camisa de um clube, e de um único clube, como segunda pele. Não seria razoável exigir dos vascaínos que torcessem o nariz para o Marcelinho só porque se trata de ex-rubro-negro.

Mas, com minha ética provavelmente defasada, eu ainda acho que, num caso extremo como o do Marcelinho, o decoro manda não idolatrar. Não era ele, na cabeça ressentida dessa gente, a personificação de tudo o que o Flamengo tinha de mau? Seria como nós outros, hoje, passarmos a tratar o nojentinho Felipe como legítimo e digno sucessor do Zicão.

Bato palmas para o Felipe quando jogar bem, quero muito que se destaque e resolva as coisas para o Flamengo. Mas idolatrar o do topetinho seria demais para o meu estômago.

Talvez eu esteja ficando velho como o Sr. Calazans. Talvez eu devesse dedicar-me a comentar sinuca.

7 de mar. de 2003

Estive fora, de férias, por algumas semanas. Ainda com acesso intermitente à internet, vou tentar reunir num único post os acontecimentos das últimas duas ou três semanas que chegaram ao meu conhecimento a alguns milhares de quilômetros daqui e que ainda merecem comentários.

Uma fonte insuspeita -- um tricolor via DDI, para ser exato -- contou-me que o Flamengo foi escandalosamente garfado no sábado de Carnaval e que, por conta disso, o time do subúrbio sagrou-se campeão da Taça Guanabara. Fosse apenas um gol rubro-negro mal anulado -- e parece não haver dúvidas de que foi pessimamente anulado --, eu talvez creditasse o título vascaíno a um infeliz erro de arbitragem. Mas um outro lance, e uma outra trapalhada de Sua Excelência, o árbitro, deixou o meu amigo tricolor com a pulga atrás da orelha.

Lá pelas tantas, conta-se que o Jorginho deu um carrinho dentro da área rubro-negra, para afastar a bola. Vinha um vascaíno a meio quilômetro de distância e, vendo aquilo, o árbitro apitou jogo perigoso. Dentro da área do Flamengo. Dizem que o Wright, comentando o jogo, parecia genuinamente escandalizado com a decisão do juiz, cujo nome e cujos cornos aliás ignoro.

O curioso é, depois de acontecerem coisas assim, ver os vascaínos com aquele ar de dignidade ofendida sustentando a mesma conversa para boi dormir segundo a qual o time do subúrbio é sempre o injustiçado, sempre o perseguido, sempre o mais sacaneado -- talvez por ser o time do subúrbio, talvez por seu ilibado Presidente julgar-se inimigo figadal do Sr. Roberto Marinho, talvez porque sejamos um país mais racista que a África do Sul e nossas elites filohitleristas jamais perdoaram o Vasco por ter escalado uns pretos e mulatos em 1920, talvez porque círculos lacerdistas infiltrados até hoje em todos os centros decisórios do país jamais engoliram os comícios de Vargas em São Januário, na década de 40.

Eu, alheio a essas especulações sobre o verdadeiro motivo por que o Vasco da Gama é tão sacaneado, fico a relembrar as vezes em que foi, antes pelo contrário, muito beneficiado por decisões no mínimo duvidosas da arbitragem ou da cartolagem. Freqüentemente em cima do Flamengo. Como no sábado de Carnaval. Como nos 2 x 1 do Brasileiro de 2002. Como no gol anulado de Juan (ou terá sido do Beto?) na final do Carioca de 1999. Como no pênalti não marcado em cima do Romário na final da Taça Rio de 1999 (na ocasião, o então vascaíno Felipe quase pisou na cabeça do então rubro-negro Romário). Como no gol rubro-negro mal anulado na final da Taça Guanabara de 1998. Isso para não falar em casos que não envolveram o Flamengo, como a final do Brasileiro de 1974 (Jorginho Carvoeiro? Alguém lembra?), o mui controvertido empate com o Curintcha em 1989, que ajudou a levar o Vasco à final do Brasileiro daquele ano, a escalação de Edmundo na final do Brasileiro de 1997, a sacanagem a que submeteram o São Caetano em 2000, com a qual concordou um cartola são-caetanense, digamos assim, demasiado facilmente intimidável.

Diante disso, os poucos torcedores do Vasco com quem convivo vêm dizer-me que não houve falta sobre o Petkovic em 2001 (façam-me o favor, vejam o VT!). Ou desencavam a história do ladrilheiro. Serão realmente débeis-mentais de babar na gravata ou eu é que não enxergo que uma molecagem como a do ladrilheiro e um padrão tão consistente de arbitragens duvidosas são, no fundo, a mesmíssima coisa?

***

Na minha volta, disseram-me também que o Pet vai jogar na China e que, muito provavelmente, eu jamais o verei vestir aquele trapo imundo outra vez. Menos mal. Acho que, desde o affaire Bebeto, ninguém mais considera um traidor o sujeito que, um belo dia, resolve vestir a camisa do maior rival. Mas o Pet foi, depois do Zicão, o jogador que eu mais gostei de ver vestindo a Camisa 10 da Gávea. E era chato, muito chato vê-lo com aquela camisa asquerosa sem cor nem glória, com um cinto de segurança no peito em vez da estrela amarela de campeão do mundo.

***

Falar no Zico, o Galinho merecia uma homenagem muito maior do que a que posso prestar-lhe agora, quatro dias depois do seu cinqüentenário, e já meio sem clima.

O Zico foi o único jogador que me fez chorar duas vezes. Quando deixou o Flamengo em 1983 e quando deixou o Flamengo em 1990. O Zico me fez campeão do mundo, o Zico ajudou a fazer a cachorrada enfiar onde melhor lhe aprouve (à cachorrada) aquela faixinha ridídula que levava ao Maraca desde 1972, o Zico fez freguês ressentido do Flamengo o detestável Galo das Alterosas, o Zico botou aquela bola na cabeça do Rondinelli inaugurando uma era de predomínio absoluto do melhor time que já vi jogar, o Zico botou aquela bola no gol dos chilenos escrotos do Cobreloa, o Zico acabou com a vantagem do Santos do delinqüente do Serginho Chulapa em 40 segundos de jogo, o Zico botou aquela bola no gol do Santa Cruz e levou o Flamengo às finais e ao tetra em 1987.

Até hoje, quando Sua Majestade pisa na tribuna de honra do Maracanã, eu fico com os olhos verdadeiramente embaciados quando grito que “o Zico é o nosso Rei”. Ou quando escuto que “é falta na entrada da área / adivinha quem vai bater?”.

Quando o Zico fez aquele gol contra a Iugoslávia, em 1986, o Luciano do Valle disse que não havia palavras para descrever a obra-prima. Pois no cinqüentenário do Galinho, acho que todos nos sentimos um pouco assim, sem palavras para agradecer-lhe por tudo.

Mas todos nós tentamos: muito obrigado, Zicão.


14 de fev. de 2003

ELEVEN YEARS TOMORROW

Há exatos onze anos -- aliás, amanhã completará onze anos exatos --, o Flamengo batia o Palmeiras no Parque Antarctica por 2 x 1. Era um sábado à tarde, fazia um sol duccaraglio e as férias de verão terminavam dali a dois dias.

O Flamengo estreara no Campeonato Brasileiro meio aos trancos e barrancos, num empate muito pouco convincente com o Bahia (1 x 1). Se não me engano, fomos garfados na Fonte Nova, teve o palhaço do Paulo Maracajá em campo e tudo o mais. (Aliás, que foi feito do paspalho do Paulo Maracajá?). Depois ganhamos do Guarani por 3 x 1, no Brinco de Ouro, e empatamos com o Botafogo em 2 x 2.

Ouvi tudo pelo rádio, até então. O jogo com o Palmeiras, salvo engano meu, foi o primeiro do Mengão a ser televisionado.

E foi o jogo contra o Palmeiras, a vitória convincente em terreno suíno que renovou as minhas esperanças no Flamengo. O time campeão carioca -- o time de Gaúcho, Gottardo, Júnior Baiano, Uidemar, Gilmar, Zinho e Júnior -- começava a se reencontrar. Começava ali a marcha rumo ao pentacampeonato.

The rest is history. Com um campeonato espetacular de Júnior, o Flamengo sagrou-se pentacampeão, goleando o Botafogo na final e -- meu jogo inesquecível -- ganhando do Vasco na bola e no braço pelas semifinais.

O Tinhorão tinha dezesseis anos.

Devia ter uma lei que garantisse a todo garoto de dezesseis anos o direito de ver seu time campeão do Brasil. Pelo menos a todo garoto rubro-negro.




13 de fev. de 2003

MAIS CALAZANS



Em sua coluna de segunda-feira, 10 de fevereiro, o Sr. Calazans indagava-se, com essa ironia refinada cujo domínio até hoje só alcançaram ele e o inglês Oscar Wilde, quando seria a estréia de Lopes pelo Flamengo (Lopes jogara uma partida apagadíssima no domingo, contra o Fluminense). O próprio Sr. Calazans respondia à pergunta com uma suposição: "Quem sabe quer estrear junto com Fernando Baiano".

Fernando Baiano (foto) já vinha jogando pelo Flamengo há alguns jogos e, salvo engano, já tinha até feito gol.

Ontem Fernando Baiano jogou uma partida estupenda, contra o Bangu. Fez os dois gols do jogo, um após linda tabelinha com Fábio Baiano. Segundo O Globo -- o mesmíssimo O Globo onde o Sr. Calazans publica suas sandices --, foram "dois bonitos gols e jogadas de centroavante inteligente". Ah, sim, e deram-lhe a nota mais alta do time, um respeitabilíssimo 8,5.

É claro que todo o mundo está sujeito a ter a língua queimada, exatamente como o Sr. Calazans. O problema é que esse paradigma da responsabilidade jornalística nunca dá o braço a torcer, nunca reconhece o erro, nunca pede desculpas a quem possa ter ofendido injustamente com seus palpites azedos. Opiniões dele acerca do Felipão vêm à mente.

Em todo o caso, fica o registro: Oswaldo Tinhorão está esperando que o Sr. Calazans reconheça que errou.


11 de fev. de 2003

Fernando Calazans (foto) é o mais redundante cronista esportivo brasileiro. Nada do que diga ou escreve tem importância, nenhum de seus palpites azedos tem transcendência superior à de qualquer pitaco emitido em qualquer discussão de botequim.

Geralmente, em sua coluna n'O Globo, não faz mais que lamuriar-se pelo tempo que passou, pelos good old times que não voltam mais. Nada contra a nostalgia, de que, aliás, sou adepto confesso. O que me irrita no Sr. Calazans é sua incapacidade de assimilar as mudanças por que passou o futebol nas últimas décadas e sua tendência a julgar o presente por critérios de quarenta anos atrás.

O Sr. Calazans gasta parágrafos e parágrafos enaltecendo o lindo, o lírico futebol brasileiro de tempos idos e censurando a violência que campeia pelos estádios hoje. Opiniões que qualquer palpiteiro de botequim pode emitir. Fácil, muito fácil elogiar superlativamente o que todo o mundo admira e desancar o que todo o mundo odeia. Quem, fora Carlos Bilardo, há de ser contra o jogo bonito?

Nas poucas vezes que se meteu a dar pitaco em assuntos sobre os quais não paira maciça unanimidade, o Sr. Calazans geralmente falou besteira. O melhor exemplo foi a Seleção do Felipão. Ao longo de vários meses, o Sr. Calazans tratou de achincalhar o técnico para todo o Brasil, de debochar de seus conhecimentos futebolísticos e de seus métodos de trabalho. Não foram poucas as vezes que previu, para a Seleção do Felipão, um vexame maior do que o de 1966.

Quando o Felipão voltou com o penta, o Sr. Calazans não teve essa humildade elementar que teria qualquer crítico minimamente responsável: pedir desculpas pelas asneiras que escreveu e pela maneira desrespeitosa com que tratou o treinador.

Desde essa época, venho nutrindo o gosto de pinçar todas as sandices que o Sr. Calazans escreve e, em momentos de especial emputecimento, mandar a ele meus comentários sobre suas atrocidades. Mandei-lhe vários e-mails depois do penta, exigindo dele uma atitude digna (um pedido de desculpas ao Felipão, cazzo). Para que não se me acuse de oportunista, mandei-lhe também uns dois ou três e-mails antes da Copa, reclamando da maneira irresponsável e deselegante com que ele vinha tratando o técnico da Seleção.

Dito isso, confesso que pinçar sandices e atrocidades nos escritos do Sr. Calazans é tarefa inglória na maior parte do tempo. Isso porque, como já expliquei, o Sr. Calazans limita-se a transcrever num dos maiores jornais do país opiniões que são compartilhadas por todo o mundo. Vai muito pouco além do vox populi.

Quando, no entanto, seu tom me causa particular emputecimento, mas suas idéias são tão banais que não merecem uma refutação, não me dou por vencido e critico-o pela forma. É o que faço hoje.

Por que cuernos, para o Sr. Calazans, sempre que um jogador sofre um drible desmoralizante, ele fica "estatelado" no chão? Em toda coluna do Sr. Calazans tem alguém estatelado no chão. Por que não mudar a imagem? Que tal "escarrapachado", "estirado" ou -- fugindo desse campo semântico, mas guardando a idéia da falta de recursos do defensor estatelado -- atônito, perplexo?

Na coluna de hoje, foi o rubro-negro Jorginho que ficou estatelado no chão. Mas escroto mesmo foi o adjetivo que esse cavalheiro encontrou para descrever o futebol, digamos assim, assaz convincente do Real Madrid. Para o Sr. Calazans, o Madrid joga um futebol "esfuziante". Esfuziante!

Para o Aurélio, "esfuziante" é "sibilante", "muito alegre", "muito vivaz", "radiante". Nessa progressão, quase daria para acrescentar "poderoso", "vitaminado", "energético".

Ui!

8 de fev. de 2003

Há trinta anos, morreu assassinado num bar em Copacabana um dos maiores jogadores que o futebol brasileiro já produziu -- para o gosto do Tinhorão, evidentemente. Trata-se de Almir Pernambuquinho (foto), craque do Flamengo, Santos, Curintcha e outros clubes menos votados.

Em entrevista à revista Placar, Almir definiu-se como "um marginal do futebol". Jogou dopado contra o Milan; meteu a cara no pé do zagueiro Maldini, cavando um pênalti escandaloso e dando ao Santos o seu segundo Mundial; fez um gol improbabilíssimo contra o Bangu, em 1966, metendo a cara na lama e tornando-se capa do francês L'Équipe, que o intitulou "le Pelé blanc"; desceu a porrada em todo o time do Bangu quando o Flamengo foi garfado na decisão do Carioca de 1966.

Mais que um jogador, Almir foi cabra macho a honrar a camisa que vestia, sobretudo a do Flamengo. Sua indignação pela sacanagem a que submeteram o clube, em 1966, lembra o inconformismo do Beto com as embaixadinhas do pederasta Pedrinho. De lá para cá, Beto não só devolveu as embaixadinhas, em 2000, como encarou, sozinho, todo o time e torcida do Vasco, em 2001.

Mas o assunto aqui é o Pernambuquinho, a quem presto minha homenagem. E recomendo a leitura da matéria especial que o Futbrasil dedicou a ele.

7 de fev. de 2003

Ok, eu confesso. O mais isento e desapaixonado analista do futebol brasileiro anda torcendo descaradamente por um time. E pior: por um time que não é o seu.

Mas é irresistível. Não dá para ficar indiferente ao futebol desse Santos de Robinho e Diego. Esses moleques abalaram a minha legendária imparcialidade já ao fazer o que fizeram com o pobre São Paulo -- aquele da melhor campanha, melhor ataque etc. -- nas quartas-de-final do Brasileiro passado. Depois veio a surra no Grêmio. Futebol à parte, delicioso mesmo foi ver o singular ataque de pelanca em que se desfez o viadíssimo arqueiro gremista Danrlette. Ali, naquele exato momento, ganharam a eterna simpatia de Oswaldo Tinhorão. Até perdoei a surra que deram no Flamengo, na primeira fase.

Depois a final contra os gambá. Quando muita gente boa andou dizendo que a garotada santista iria amarelar diante dos corintianos, muito mais experientes e malandros, eis que Robinho fez o que fez com o Curintcha. Não só não amarelou como, na ausência do Diego -- o outro cracaço do time -- e do artilheiro Alberto, inventou três gols ex nihilo, do nada. E dois deles justamente quando o Curintcha tinha virado o jogo e parecia que os santistas, agora sim, sentiriam a superior malandragem adversária.

Anteontem os garotos deram um show na Colômbia, pela Libertadores. Mais que a desfaçatez com que o Santos goleou o adversário fora de casa, mais do que o olé e os malabarismos do Robinho, o que me impressionou mesmo foi a reação da torcida colombiana. Parecia, sem exagero, coisa de um outro Santos, de outros tempos, que também costumava ser ovacionado pelas torcidas adversárias América do Sul a fora. Parecia coisa de um Santos que, os mais velhos hão de se lembrar, tinha a segunda maior torcida do Rio, atrás apenas da do Flamengo. Quando jogava no Maracanã, enchia o estádio de admiradores.

E assim é que o Tinhorão vem cometendo essa indignidade de torcer por um time que não é o seu, hábito que não cultivava desde o Napoli de Maradona e Careca, lá se vão uns bons quinze anos.

Se outros cariocas seguirem o exemplo, logo, logo o Vasco será relegado à condição de terceira maior torcida do Rio.