8 de jul. de 2003

ÉS O ALTAR DOS NOSSOS CORAÇÕES



Posso estar citando o Nelson Rodrigues com demasiada freqüência, mas o nosso maior cronista e dramaturgo descobriu uma daquelas verdades eternas quando se saiu com essa do Óbvio Ululante.

Com a licença do Nelson, então, volto a usar o Óbvio Ululante como gancho para o meu raciocínio.

Que o Rio de Janeiro, com todas as suas mazelas, é a única cidade brasileira que pode pretender sediar os Jogos Olímpicos sem cair no ridículo é de uma obviedade que chega a ofuscar. Sendo um pouco pedante, eu diria que o Rio é a nossa única world class city. A candidatura de São Paulo era um exotismo que ainda merece estudos sérios de psiquiatras e sociólogos, para não falar de especialistas em finanças públicas (sim, pois despender dinheiros públicos num projeto lunático desses justificaria uma investigação mui criteriosa do Tribunal de Contas de São Paulo, quem sabe até uma CPI).

Com todo o seu dinheiro e toda a sua pujança, São Paulo não é mais do que uma megalópole do terceiro mundo, como tantas outras que crescem como cogumelos ao sul do Trópico de Câncer. E pretender que São Paulo possa sediar os Jogos Olímpicos equivale a defender direito semelhante para Bombaim, Jacarta ou Karachi -- todas elas superpovoadas e com marcas de uma opulência relativa, arranha-céus de vidro e franquias da Louis Vuitton, mas todas elas iguaizinhas em seu terceiro-mundismo.

O Rio também é terceiro mundo, mais do que São Paulo. Mas, senhores, o Rio é o Rio! O Rio é o tráfico, as balas perdidas e as crianças no sinal, mas o Rio é também o Maracanã, Copacabana, Ipanema e Leblon. O Rio é Vinícius de Morais, Cartola, Pixinguinha, Chico Buarque e a Estação Primeira. O Rio é Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Lima Barreto, é até bastante Carlos Drummond. O Rio é o Fla-Flu, é o Cristo Redentor, é o poente do Leblon (o Rio é a única cidade do mundo onde se batem palmas para o pôr-do-sol). É o Paço Imperial, a Candelária, a Igreja do Carmo (onde se coroaram dois Imperadores) e o Palácio do Catete (onde um Presidente meteu um tiro no peito).

De onde São Paulo pode tirar méritos semelhantes para concorrer com o Rio é coisa que me intriga. A Praça da Sé, o Viaduto do Chá e o Grêmio Recreativo Escola de Samba Leandro de Itaquera? Tenham a santíssima paciência! Se o assunto é insegurança e o único mérito de São Paulo é uma normalidade fictícia, nesse quesito ela perde de goleada para absolutamente todas as demais concorrentes. Seria uma candidatura natimorta, como foi uma pré-candidatura abortiva.

Por essas e outras, e após ouvir as recentes declarações da Excelentíssima Senhora Prefeita de São Paulo, pondero e obtempero:

Tumdumdumdumdumdumdumdumtumtumtumtum

Ei, Martha, vai tomar no cu!

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