11 de fev. de 2003

Fernando Calazans (foto) é o mais redundante cronista esportivo brasileiro. Nada do que diga ou escreve tem importância, nenhum de seus palpites azedos tem transcendência superior à de qualquer pitaco emitido em qualquer discussão de botequim.

Geralmente, em sua coluna n'O Globo, não faz mais que lamuriar-se pelo tempo que passou, pelos good old times que não voltam mais. Nada contra a nostalgia, de que, aliás, sou adepto confesso. O que me irrita no Sr. Calazans é sua incapacidade de assimilar as mudanças por que passou o futebol nas últimas décadas e sua tendência a julgar o presente por critérios de quarenta anos atrás.

O Sr. Calazans gasta parágrafos e parágrafos enaltecendo o lindo, o lírico futebol brasileiro de tempos idos e censurando a violência que campeia pelos estádios hoje. Opiniões que qualquer palpiteiro de botequim pode emitir. Fácil, muito fácil elogiar superlativamente o que todo o mundo admira e desancar o que todo o mundo odeia. Quem, fora Carlos Bilardo, há de ser contra o jogo bonito?

Nas poucas vezes que se meteu a dar pitaco em assuntos sobre os quais não paira maciça unanimidade, o Sr. Calazans geralmente falou besteira. O melhor exemplo foi a Seleção do Felipão. Ao longo de vários meses, o Sr. Calazans tratou de achincalhar o técnico para todo o Brasil, de debochar de seus conhecimentos futebolísticos e de seus métodos de trabalho. Não foram poucas as vezes que previu, para a Seleção do Felipão, um vexame maior do que o de 1966.

Quando o Felipão voltou com o penta, o Sr. Calazans não teve essa humildade elementar que teria qualquer crítico minimamente responsável: pedir desculpas pelas asneiras que escreveu e pela maneira desrespeitosa com que tratou o treinador.

Desde essa época, venho nutrindo o gosto de pinçar todas as sandices que o Sr. Calazans escreve e, em momentos de especial emputecimento, mandar a ele meus comentários sobre suas atrocidades. Mandei-lhe vários e-mails depois do penta, exigindo dele uma atitude digna (um pedido de desculpas ao Felipão, cazzo). Para que não se me acuse de oportunista, mandei-lhe também uns dois ou três e-mails antes da Copa, reclamando da maneira irresponsável e deselegante com que ele vinha tratando o técnico da Seleção.

Dito isso, confesso que pinçar sandices e atrocidades nos escritos do Sr. Calazans é tarefa inglória na maior parte do tempo. Isso porque, como já expliquei, o Sr. Calazans limita-se a transcrever num dos maiores jornais do país opiniões que são compartilhadas por todo o mundo. Vai muito pouco além do vox populi.

Quando, no entanto, seu tom me causa particular emputecimento, mas suas idéias são tão banais que não merecem uma refutação, não me dou por vencido e critico-o pela forma. É o que faço hoje.

Por que cuernos, para o Sr. Calazans, sempre que um jogador sofre um drible desmoralizante, ele fica "estatelado" no chão? Em toda coluna do Sr. Calazans tem alguém estatelado no chão. Por que não mudar a imagem? Que tal "escarrapachado", "estirado" ou -- fugindo desse campo semântico, mas guardando a idéia da falta de recursos do defensor estatelado -- atônito, perplexo?

Na coluna de hoje, foi o rubro-negro Jorginho que ficou estatelado no chão. Mas escroto mesmo foi o adjetivo que esse cavalheiro encontrou para descrever o futebol, digamos assim, assaz convincente do Real Madrid. Para o Sr. Calazans, o Madrid joga um futebol "esfuziante". Esfuziante!

Para o Aurélio, "esfuziante" é "sibilante", "muito alegre", "muito vivaz", "radiante". Nessa progressão, quase daria para acrescentar "poderoso", "vitaminado", "energético".

Ui!

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