23 de jun. de 2003

NANICOS DA BOLA, NANICOS DA CRÔNICA

“O baixinho Igor não é nenhuma maravilha (nem pode ser com aquele tamanho), mas tem suado e honrado a camisa do Flamengo.”

O autor de semelhante atrocidade não podia ser outro senão o Sr. Fernando Calazans, que três ou quatro vezes por semana dá o ar de sua falta de graça n'O Globo, onde exerce os misteres de proclamar o óbvio e de dar palpites azedos e errados sobre o que não for de uma obviedade ofuscante.

Segundo me informa um amigo, Igor tem 1,66 m. A mesma altura de um jogador que, ainda juvenil, lá para 1975, entrou no intervalo de um jogo do Argentinos Juniors fazendo embaixadinhas e saiu aclamado pela torcida, aos gritos de “ponelo al pibe, la puta que te parió” -- põe o garoto pra jogar, caralho! O pibe depois ganhou uma Copa do Mundo sozinho e tornou-se um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Com 1,66 m.

Estivesse o Sr. Fernando Calazans no campinho de La Paternal naquela tarde de 1975, teria batido boca com os pouquíssimos torcedores a testemunhar aquele momento histórico. Teria argumentado, com o mesmo ar de grandes merdas que assume ao dar seus palpites azedos n’O Globo, que o pibe não podia ser nenhuma maravilha, com aquele tamanho.

Uns dois centímetros acima do pibe está outro anãozinho para quem o Sr. Calazans só tem elogios, até mesmo quando não os merece, e cuja ausência da Seleção de 2002 levou o bilioso palpiteiro d’O Globo a torcer contra o Brasil.

Dando nome aos bois, mencionaria, ainda, Almir Pernambuquinho, Biguá, Babá, Marcelinho Carioca, Roberto Carlos, Alain Giresse, Saviola e Pablo Aimar. Nenhum deles, na douta opinião do Sr. Calazans, tem estatura para ser grande coisa.

Existem alguns lugares-comuns sobre o futebol que encerram verdades profundas, inapeláveis. Um deles é o de que este é o mais democrático dos esportes, que permite a um anão como Maradona olhar de cima super-homens arianos e salubérrimos súditos do Império Britânico, ou a um sujeito feio e torto como Mané Garrincha driblar com a maior desfaçatez sólidos soviéticos de futebol científico, nórdicos prósperos e bem alimentados e ainda chamar todo o mundo de João.

A despeito de sua impressionante capacidade de botar no papel quase tudo quanto é lugar-comum sobre futebol, parece que este escapou por completo ao Sr. Calazans.

(Meus agradecimentos ao Juan Saavedra pela paciência com que escarafunchou seus arquivos e tirou da cartola as estaturas de Giresse, Saviola e Aimar.)

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