9 de dez. de 2003

PERDEMOS O DIREITO DE ERRAR

Será que você lembra como eu lembro o Mundial que o Zico foi buscar?

Eu lembro. Tinha o dedo do Márcio Braga.

Vitorioso no pleito de ontem, Márcio Braga foi irretocável ao definir o atual momento rubro-negro: “Perdemos o direito de errar”. Depois da gestão esquecível de Luís Augusto Velloso, dos anos negros do nefasto Kléber Leite (nunca minha auto-estima de rubro-negro se viu tão abalada), de três anos e meio com o gangster Edmundo dos Santos Silva e do mandato-tampão do Helinho, eis que a meia dúzia que decide os destinos da maior paixão de 35 milhões de brasileiros resolveu não improvisar: reconduziu à cadeira de Gilberto Cardoso o homem que montou o maior time da história do Rio de Janeiro.

O direito de errar nós tínhamos perdido há muito tempo. Márcio Braga já devia ter sido eleito em 1998. Contava com o apoio da maioria esmagadora da torcida, que ficou deveras decepcionada quando a meia dúzia que vota elegeu um ilustre desconhecido com dois sobrenomes e um discurso igualzinho ao do Kléber Leite e do Luís Augusto Velloso. Veio o quarto tri, a ISL veio e se foi, vieram os escândalos e o Edmundo foi embora cassado, proscrito e algemado. E subitamente o Flamengo parecia um convento de carmelitas descalças. Pulhas e canalhas circulavam pela sede do clube e davam palpite em seus destinos com uma candura de criança que morre sem pecado. Como se a cassação do Edmundo os tivesse livrado do peso do Pecado Original.

Alguns desses pulhas até cogitaram seriamente de ocupar a Presidência -- especulações que, só por serem anunciadas, comprometeram ainda mais a periclitante credibilidade do clube. Um deles um cavalheiro que, acusado de embolsar 60% do dinheiro da Petrobrás, defendeu-se de frente erguida afirmando que só embolsava 15% (v. Hélio Fernandes, Tribuna da Imprensa, passim).

Perdemos o direito de errar. Márcio Braga volta com cinco anos de atraso. Se me defraudarem de novo, só assisto rugby. É meu último sopro de esperança.

Ou penúltimo.

O Tinhorão ainda acalenta uma esperança, um projeto cuja execução independe do Márcio Braga ou de quem quer que ocupe a Presidência do clube. São idéias que compartilhei com um punhadinho de rubro-negros da melhor cepa, gente de bem, de conduta irrepreensível, apaixonada pelo Flamengo -- inclusive gente que tinha voz na gestão que se encerra.

Gente que encareço a brigar pela idéia.

Gente que quero ver suceder o Mácio Braga.

***

Não escrevo nada já há uns dois meses. Trabalhei demais nesse lapso e o Flamengo não me deu motivos para atualizar o blog. No final das contas, teríamos tido a campanha decorosa que eu pedi não fossem as goleadas que sofremos diante das nulidades do Paraná e até do Fortaleza.

Que 2004 seja melhorzinho. Que o Márcio Braga traga o meu Flamengo de volta. Que eu tenha ânimo para voltar a escrever sobre a camisa vermelha e preta que me foi apresentada pelo meu pai numa longínqua tarde de 1980, num Maracanã festivo que aspirava a algo mais que uma campanha decorosa.

Feliz 2004 para todos nós.

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