Sei que corro o risco de soar como o Sr. Calazans -- ranheta e jurássico -- ao fazer estas reflexões, mas já avisei alhures que não tenho nada contra o saudosismo, de que sou adepto confesso. Corro, ainda, o risco de me assemelhar ainda mais ao redundante cronista d'O Globo ao compartilhar com vocês um desconforto que está longe de ser original, que é meu e mais de todo o mundo que viveu tempos de um futebol mais poético, mas, what the fuck...
Como é triste ver a torcidinha do Vasco endeusar o Marcelinho.
Que não se me acuse de estar com dor-de-cotovelo pelo fato de o Marcelinho estar defendendo as cores (or lack thereof) do time do subúrbio. É craque, eu não me importaria em absoluto em vê-lo jogar pelo Flamengo, mas, sinceramente, nem eu nem rubro-negro nenhum de minhas relações morria de vontade de vê-lo com o Manto outra vez.
É triste porque, ao longo desses quase dez anos em que o Marcelinho andou jogando naquele arraial de quinze milhões de habitantes, vascaíno nenhum esquecia que era um ex-rubro-negro, e um ex-rubro-negro particularmente nojento para o gosto deles e, admitamos, para o de quase todo o mundo que não torça pelo Curintcha.
Era, para eles, a quintessência do que a Gávea podia produzir de mais detestável -- junto com Paulo Nunes e Júnior Baiano.
E eis que o até então repelente, o repugnante, o asqueroso Marcelinho é o novo xodó da torcidinha vascaína.
Tenho para mim que, desde que o Maestro Júnior pendurou as chuteiras, não existe mais isso de jogador que tem a camisa de um clube, e de um único clube, como segunda pele. Não seria razoável exigir dos vascaínos que torcessem o nariz para o Marcelinho só porque se trata de ex-rubro-negro.
Mas, com minha ética provavelmente defasada, eu ainda acho que, num caso extremo como o do Marcelinho, o decoro manda não idolatrar. Não era ele, na cabeça ressentida dessa gente, a personificação de tudo o que o Flamengo tinha de mau? Seria como nós outros, hoje, passarmos a tratar o nojentinho Felipe como legítimo e digno sucessor do Zicão.
Bato palmas para o Felipe quando jogar bem, quero muito que se destaque e resolva as coisas para o Flamengo. Mas idolatrar o do topetinho seria demais para o meu estômago.
Talvez eu esteja ficando velho como o Sr. Calazans. Talvez eu devesse dedicar-me a comentar sinuca.
11 de mar. de 2003
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