5 de dez. de 2011

REFLEXÕES DE FIM DE TEMPORADA


Cavalheiros: atendendo a pedido, permito-me incomodá-los com três ou quatro reflexões de final de temporada:

(1) Ao contrário do que diz dona Patrícia, 2011 foi um ano ruim, porque o seu Flamengo abdicou de sua obrigação natural de vencer. Ganhou o carioquinha, é certo, mas o carioquinha não vale nada desde o dia 28 de maio de 2001, quando cumprimos a obrigação histórica de colocar o Vasco, de uma vez por todas, em seu devido lugar de coadjuvante.

Como o carioquinha há muito não é parâmetro para nada, feitas todas as contas, é negativo o saldo de Luxemburgo em sua terceira passagem malograda pelo clube (ou quarta, se considerarmos o período em que foi um lateral-esquerdo sofrível). Salvou-se aos peidos do rebaixamento em 2010 -- muito mais pelos resultados alheios do que pelos próprios --, mas em 2011 conseguiu a proeza de ser eliminado da Copa do Brasil por um time que termina o ano rebaixado com justiça, mais o grande feito de perder o Brasileiro mais fácil de todos os tempos. Aos que discordarão de minha última afirmação, repetindo as bobagens que escutam dos palpiteiros da Globo, lanço o seguinte desafio: quem aqui se lembrará de um jogador ou de uma jogada desse Curíntia medíocre daqui a dez anos?

(2) Porque o Flamenguinho de Patrícia e Luxemburgo não cumpriu sua missão doutrinadora, chegamos ao fim do ano forçados a escolher entre o pior de dois males, e não estou certo de que tenhamos feito a escolha certa. Recapitulo: fizemos a escolha certa porque não há de chegar o dia em que vagabundo vestido de Vasco, ou de qualquer outro trapo imundo, levantará um troféu nacional minutos depois de ganhar do Flamengo. E fizemos a escolha certa porque dela dependia estar na Libertadores, e aí contribuir mais uma vez para frustrar os planos da canalha incolor sem passaporte (lembrai-vos do Pacaembazo de 5 de maio de 2010). Mas testemunhar a alegria de pústulas do quilate de um Andrés Sánchez, um Ronaldo (com 130 quilos de gostos reprováveis), um “craque” Neto, para mim é quase tão ruim quanto ver a felicidade desses otários cujo sofrimento não pode parar.

(3) Dizer o quê desses otários? Houve tempo em que rangiam os dentes, esperneavam e se desfaziam em singulares ataques de pelanca a cada vice conquistado. Ontem bateram palminhas. Foram vice-campeões, terminaram na posição mais aviltante entre a segunda e a 16ª, e gritaram “é campeão”. Se dermos corda, acabam bordando mais uma estrelinha em sua camisa sem cores nem glórias.

(4) Luxemburgo passou o ano inteiro repetindo o discurso medíocre de que “a prioridade é a Libertadores”. O mínimo que se pode esperar dele, agora, é que aja de modo conseqüente. Que não me venha escalar titulares para as peladas sonolentas do carioquinha, sobretudo se forem às vésperas de compromissos pela Libertadores (como, aliás, fazia o perdedor Joel Santana, aquele do América do México). Podia era começar a temporada mandando os titulares todos aclimatarem-se no topo dos Andes, uns quinze dias antes do jogo contra o Potosí. Que deixe os juvenis jogarem contra Bacaxá, Entrerriense, Goytacaz ou Botafogo.

(5) Ia parar por aqui, mas não resisto. E u Galu? Que dizer du Galu? Os galináceos lá soltam plumas e falam em marmelada, como se alguém pudesse ser tão escancarado ao arquitetar uma armação em conluio com o maior rival. O que efetivamente aconteceu parece ter sido muito mais simples: a “massa” atleticana tratou como decisão o jogo em que podiam rebaixar o Cruzeiro. Aí não tem remédio: sendo decisão, u Galu indefectivelmente se fode de preto e branco.

21 de fev. de 2011

1987 NOS VOSSOS CORNOS


Por Deus, olhai a foto que ilustra este artigo. Ali está Leandro, o Peixe Frito, o maior lateral direito que o Brasil já viu, com o joelho em frangalhos mas, ainda assim, um paredão inexpugnável em nossa zaga. O Leandro que deixou sangue em campo no Mineirão, na semifinal, quando, confirmada a escrita, a freguesia das Alterosas entrou em desespero. A seu lado, novinho, Zé Carlos, Deus o tenha, o Zé Grandão que foi o primeiro substituto digno de Raul Plassmann nos meus times de botão e no meu coração. Está lá Andrade, prestes a desfilar sua classe gigantesca pelo gramado do Maraca. Prestes a fazer a maior exibição de sua carreira e ofuscar Zico, Renato, Bebeto. Prestes a coroar uma jogada coletiva de antologia com o passe magistral para Bebeto. Está lá Edinho, velho rival agora com as cores certas, as únicas cores certas, formando com Leandro uma daquelas zagas que deviam ser proibidas porque é sacanagem com o adversário. Está lá o Leonardo, menino ainda, 17 anos, o Léo que ainda era o Ratinho para os seus colegas do Instituto Abel de Niterói, que olhávamos para ele como quem olha assim para um semideus (“quantas mulheres é possível comer, jogando no Flamengo, aos 17 anos?”). Está lá Jorginho, atleta de Cristo dos de verdade, homem de bem, lateral fino e vigoroso, uma das cinco contribuições desse Flamengo para a seleção que finalmente traria de volta o caneco, em 1994.

Agachado está Bebeto, que um belo dia desistiu de ser o sucessor do Galinho em nossos corações, mas que a essa altura era idolatrado com justiça pela maior torcida da Terra. O Bebeto que um dia formaria, ao lado de Romário, a maior dupla de ataque da história do futebol. A seu lado está Renato Gaúcho, que rodou o Brasil inteiro mas nunca — nem no Grêmio, contra o Hamburgo — experimentou coisa comparável a ser o maior jogador do Brasil envergando o Manto Sagrado. O Renato que esse ano saldou contas pendentes com o inimigo Telê Santana e confirmou, pelos séculos dos séculos, a ancestral freguesia do odioso Galo mineiro diante do Flamengo. Ao lado dele Aílton, raçudo, voluntarioso, que um dia entrou para a história, jogando pelo Grêmio, definindo uma das finais mais emocionantes de todos os tempos. O Aílton que, reparai, foi o único desses onze a não ter vestido a camisa da seleção. Depois está Ele, Sua Majestade Arthur Antunes Coimbra, que em noventa minutos erguerá seu último troféu pelo Flamengo, e em dois anos deixará os gramados e nos fará órfãos para sempre. A seu lado, ainda mirrado, ainda moleque, Crizam César de Oliveira, Crizanzinho, Zinho. Os críticos um dia o chamarão de enceradeira, mas eram esse domínio e esse toque de bola refinados que permitiam àquele Flamengo ir cozinhando qualquer adversário do mundo até que, atordoado, não pudesse reagir quando finalmente déssemos o bote.

Olhai a foto e lembrai que, por 23 anos, dois meses e oito dias, os canalhas e os recalcados negaram que esse time tenha sido tetracampeão do Brasil. Olhai e lembrai de todos os filhos da puta que, ao longo de um quarto de século, vos falavam em sports e asteriscos, ainda que fossem incapazes de lembrar o nome de um, apenas um jogador do irrelevante Sport Club Recife. Ainda que não tenham visto, porque ninguém viu, o Sport derrotar o Guarani no mais completo anonimato, longe dos olhos e dos corações dos brasileiros.

Olhai e lembrai do mais reprovável entre todos os adversários, o São Paulo Futebol Clube, ostentando por aí a fama imerecida de Penta Único, depois de Hexa Único. Lembrai do São Paulo que esqueceu que um dia foi presidido por homens em vez de canalhas, que ignorou a palavra empenhada há um quarto de século, que não hesitou em bater a carteira do parceiro que, em 1987, junto com ele arriscou tudo para dar aos grandes clubes do Brasil o que era deles por direito.

Olhai e lembrai dos biltres de todas as cores e procedências, de Muzambinho ao Recife, ignorando todas as obviedades e perpetuando a mentira risível de que um time que ninguém viu era o legítimo campeão do Brasil de 1987. Olhai e lembrai dos que negavam ao Flamengo a glória conquistada em campo, naquele 13 de dezembro chuvoso, mas que, desatentos, repetiam sem pensar que esse Andrade e esse Zinho foram os maiores campeões do Brasil, porque conquistaram o Brasileiro em cinco oportunidades (o que forçosamente inclui 1987).

Olhai e lembrai de Leão, freguês eterno, bostejando sandices sobre o Flamengo ter amarelado para os onze perebas inapeláveis que ele dirigia em 1987. Olhai e lembrai de Milton Neves, do pulha Milton Neves, alienando a maior torcida da Terra para fazer graça com duas kombis de pernambucanos. Olhai e lembrai do mau caráter Juvenal Juvêncio, agora condenado a perder o único brinquedo capaz de satisfazê-lo na velhice decrépita. Lembrai do irrelevante Homero Lacerda e de suas ameaças tresloucadas de processar a Deus e o mundo por proclamarem o óbvio, em 6 de dezembro de 2009. Lembrai dos outdoors rastejantes de pernambucanos subservientes, que em 2007 viam na glória do São Paulo o único caminho para que o Brasil se lembrasse da gloríola do Sport, em 1987.

Olhai para a foto, irmãos, lembrai de toda essa gente, e de quantos mais vos torraram os bagos em 23 anos, dois meses e oito dias. Lembrai agora que sois hexa desta porra, que aqui não há nem haverá nunca clube maior do que o nosso. Olhai de cima as legiões de recalcados, arquejantes de ódio e de inveja, enchei os pulmões e repeti comigo, para Deus e o mundo ouvirem:

VASCO, BOTAFOGO
AMÉRICA, BANGU
QUEM NÃO FOR FLAMENGO
VÁ TOMAR NO CU.

3 de fev. de 2011

RONALDO NÃO!

Depois do 2010 horroroso que tivemos, todo rubro-negro -- até os que, como eu, têm enormes prevenções à Patrícia Amorim -- anda esperançoso com este princípio de ano muito melhor que a encomenda. Mas eis que, quando tudo ameaça dar certo, algum gênio plantou a idéia de jerico na cabecinha da presidente: e se trouxéssemos também o Ronaldo gordo, aquele dos travestis? Era ou não era um grande golpe de marketing?

Isso a acreditar na fofoca que nos conta um tal Cosme Rímoli, que eu não sei que crédito merece, mas bate com rumores que há algumas semanas lemos na imprensa.

Não há muito o que dizer a respeito: Ronaldo é hoje motivo de chacota entre todos os torcedores brasileiros. Há muito que não joga nada e, não se tratasse de figurinha tão desprezível, sua forma de barril hoje despertaria a mesma pena que o Garrincha despertou no final da vida. Talvez até mais, que os desvios de conduta do Mané se limitaram ao alcoolismo. De resto, o Mané cansou de bater no Flamengo, mas, quando teve a ocasião de jogar pelo clube do coração, abraçou-a e não a deixou escapar. Não jogou nada, mas ao menos devolveu o carinho da torcida que o amava e admirava apesar de ele nos ter feito sofrer tanto, com a camisa do Botafogo.

Bem diferente desse gordo escroto, que, no momento mais vergonhoso de sua vida, quando desceu mais baixo do que qualquer jogador jamais desceu, só teve o apoio da torcida do Flamengo, contra o escárnio unânime de toda a torcida brasileira. E nos pagou como pagou, negociando em nossas costas com nosso maior inimigo, com o clube que vive com uma única obsessão (além de um dia, quem sabe, ganhar a Libertadores): a de desbancar o Flamengo do posto de Mais Querido do Brasil.

Até aqui falou o torcedor passional, o que teve orgasmos com a coletiva chorosa do gordo traíra depois de ele ser brutalmente sodomizado (e, uma vez na vida, não gostar) pelo Flamengo de Vágner Love. Falou o rubro-negro que chegou ao cúmulo de torcer pelo Fluminense no Brasileiro passado, só para negar a esse sujeitinho sem caráter o gostinho de ser campeão brasileiro. Acredito que haja alguns milhões de rubro-negros como eu, prontos a receber Ronaldo com cinco pedras em cada mão.

Mas a recomendação que faço é também como torcedor racional: Patrícia Amorim, cuidado com o marketing. Depois do 2010 horroroso, a senhora está acertando, para a agradável surpresa de muitos (eu inclusive). Não vá pôr tudo a perder por confundir as prioridades. Marketing é muito bom e bonito como meio para um fim. Ganhar R$ 900 mil de patrocínio por um único jogo é excelente se for para tornar o Flamengo mais forte e vencedor.

Nós tivemos, num passado não tão distante assim, um Presidente que começou com uma senhora jogada de marketing, ainda mais impressionante que trazer o Ronaldinho: trouxe o Romário, em plena forma, maior jogador do mundo. Gostou tanto do efeito que, por quatro anos, só fez golpes de marketing, e o Flamengo andou de vexame em vexame. Converse com o Luxemburgo. Ele estava lá. Ele viu tudo. Ele viu como um projeto promissor acabou transformando o Flamengo em chacota nacional.

Patrícia Amorim, a senhora está acertando. Não vá desviar-se desse caminho agora, contratando um ex-centroavante que não só não agrega nada, tecnicamente, como é desprezado pela torcida.

Quero crer que a fofoca do Cosme Rímoli é só isso: fofoca. Mas, se for verdade, fico aqui com a dúvida: por que dar ao desprezível Ronaldo a saída honrosa que a senhora se recusa a dar ao herói rubro-negro Petkovic?