7 de jun. de 2004

NO PASARÁN
(OU “Da perplexidade que leva ao emputecimento”)


Antes de mais nada, queria recomendar a leitura do último post do meu compadre Valido Platero, também sobre as sandices publicadas pelo sr. Mendes Junior no Blog de Primeira. Destaco um trecho, que está longe de ser o meu favorito, só para deixá-los com água na boca:

“O sr. Leonardo pensa que o carioca mantém o Maracanã apenas por orgulho. Não o culpo. Quem vive em uma cidade cujo maior monumento é um relógio feito de flores não poderá nunca entender o que é conviver com um símbolo mundial [...].”

Em segundo lugar, penso que devo uma satisfação aos leitores que acham que eu peguei pesado com o cretino do sr. Mendes Junior porque diagnostiquei sua cretinice. Não conheço pessoalmente o palpiteiro da Gazeta do Povo e, se bati nele mais do que ele talvez merecesse, é porque julgo que seus escritos são típicos da crônica esportiva paranaense: bairristas e recalcados.

Reconheçamos desde já a verdade evidente e não voltemos mais a esse ponto: o futebol carioca vai muito, muito mal das pernas. Tão mal que está no mesmo nível ou talvez abaixo do futebol paranaense (reparem os leitores da terra dos pinhais que o futebol de seu Estado é paradigma de mediocridade, é como que um marco: daqui para baixo é tudo merda).

Diante dessa verdade insofismável, identifico dois tipos de reações patológicas na imprensa nacional: a dos cronistas cariocas, que, regra geral, não a reconhecem, e a dos paranaenses, que não têm nada a ver com isso mas transformaram a crise do futebol carioca num de seus assuntos prediletos, numa obsessão.

Quero frisar que, para mim, as duas reações são igualmente patológicas: o carioca que não quer enxergar a realidade e o paranaense que se compraz em escancará-la com exagero.

O primeiro caso é um problema doméstico nosso: no filho meu, bato eu, e eu canso de bater, aqui mesmo neste blog, nos cronistas cariocas indignos de ocupar o espaço que já foi de Nelson Rodrigues e João Saldanha.

O segundo caso é de agressão estrangeira, a que eu não deixarei de responder com intensidade desproporcional para botar em seu devido lugar os ruminantes da imprensa esportiva do Paraná.

Dir-se-ia que há uma inversão de papéis: as análises que deviam vir n'O Globo e no JB acabam sendo impressas no Correio do Povo ou sei lá que outro pasquim provinciano. É como se as notícias sobre as falcatruas que acabaram levando ao impeachment de um Governador de um Estado qualquer viessem, não nos jornais desse Estado, mas nos já referidos O Globo e JB.

Se essa obsessão com a crise do futebol carioca fosse coisa de jornalistas de São Paulo, eu até entenderia: não aceitaria, mas entenderia. Mas... o Paraná? Que cazzo nós fizemos ao Paraná para merecer tamanho ressentimento dessa gente? Nós não fazemos piada com paranaense (que nem para estereótipo essa gente serve), não fazemos turismo por aquelas plagas, não invadimos as belíssimas praias do litoral deles, não vivemos dos impostos que eles pagam (pecado de que eles acusam os nordestinos), não os tratamos mal quando vêm ao Rio, não sintonizamos a TV para torcer contra os times deles, não limpamos o pau na cortina quando comemos as filhas e esposas deles... Qual é exatamente o problema deles conosco?

Juro para vocês: para mim, é quase como se a imprensa tirolesa ou normanda resolvesse dedicar artigos diários e mesas redondas semanais à crise do futebol carioca. Meu emputecimento vem da minha perplexidade.

Eu poderia, é claro, tratar as nulidades do quilate do sr. Mendes Junior com uma superioridade olímpica. Mas me recuso a fazê-lo. Assim como La Pasionaria, o Tinhorão gostaria de ser lembrado por uma idéia fixa: no pasarán. Quando comecei a escrever sobre futebol, jurei para mim mesmo não deixar passar sem resposta nenhuma imbecilidade grafada ou relinchada pelos cretinos do meio futebolístico brasileiro. Por mais insignificantes que sejam os autores, no pasarán.


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