Eu sou um escroto. O dia mais feliz da minha vida foi o 1° de
dezembro de 1998. Naquele dia eu comemorei de forma tão extravagante o
gol do Raúl que o casal do prédio da frente, que também comemorava com
uma bandeira do Flamengo, parou de celebrar para me interpelar: ― Calma,
garoto! Você vai morrer do coração! Um ano depois, em janeiro de 2000,
quando o Edmundo perdeu aquele pênalti, tive um ataque de riso de uma
hora. Um amigo rubro-negro me telefonou e eu não respondia, só
gargalhava. Quando o Fluminense foi rebaixado, eu ia à janela nos
horários mais insuspeitos ― no meio da tarde de uma terça-feira, às duas
da manhã de sábado ― e gritava “segundona”, e minha voz tonitroava
pelos prédios da vizinhança, matando de raiva os tricolores que não
esperavam uma ofensa assim num horário daqueles. Isso durou um ano, e
depois continuei gritando “terceira divisão”, mesmo quando o Fluminense
não jogava. Sobretudo quando o Fluminense não jogava.
Meu júbilo com o Fluminense pastando na terceira divisão era pela
maldição realizada. Quando o Fluminense foi campeão carioca em 1995, a
torcida do Flamengo, coletivamente, concentrou todas as suas energias
mentais em desejar a desgraça do adversário. Se 40 milhões de indivíduos
se obstinam em desejar-lhe o pior, basta um ano e meio para o seu time
cair do título carioca para a segunda divisão, e quatro anos para a rainbow jersey ser avistada em onze perebas num campinho do Corpo de Bombeiros candango.
Essas reminiscências me vêm à mente por causa do outro tricolor
esquisitão, o São Paulo Futebol Clube. Esta semana, as meninas do
Morumbiba vivem o seu maior inferno astral desde que a empregada os
flagrou provando o sutiã da irmã mais velha. Completaram seis anos sem
bater o maior rival em casa e ainda foram despachados da Libertadores,
com goleada e olé, por ninguém menos do que u Galu, um time que só figura na história do futebol brasileiro como sparring do Flamengo.
Longe de mim ficar feliz com vitória do Curíntia. Como em janeiro de
2000, o que conta aqui não é a vitória dessa malta vil, mas a derrota do
adversário. Façamos as contas, senhores: seis anos sem vencer o maior
clássico em casa significa que a última vitória foi em 2007 ― o ano em
que, cuspindo em cima (logo eles, que engolem) da palavra empenhada, a
São Paulo passou a reivindicar a condição fraudulenta de penta único. Pediram, e levaram na mão grande, a nossa Taça de Bolinhas, para depois ter de entregá-la debaixo de vara a um oficial de justiça, como larápios que são.
Diante desse quadro, não há como não nos regozijarmos com a desgraça
do mais desonesto, o mais traiçoeiro dos inimigos. Por odioso que fosse,
um Eurico Miranda a vomitar rancor contra o Flamengo era muito mais
digno, tinha muito mais hombridade do que essa corja, porque suas
intenções sempre estiveram patentes para todos. Por revoltante que seja,
um Curíntia que se torna indistinto do partido político que o apadrinha
para ganhar estádio, patrocínio público e arbitragem amiga chega a ser
menos reprovável do que essa canalha, porque faz o que faz às
escâncaras, nas barbas de uma nação perplexa.
O que acontece com a São Paulo, amigos, é nada mais, nada menos do
que o que aconteceu com o Fluminense. É a praga que se cumpre, a
maldição que se realiza, é a concretização dos desejos de 40 milhões de
rubro-negros que eles pretenderam sacanear a partir de 2007, passando
por cima da honra, da palavra empenhada, da própria história do clube
que, em parceria com o Flamengo, mostrou aos demais o caminho da
grandeza, em 1987.
11 de mai. de 2013
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