17 de jun. de 2009

GUERRA À MEDIOCRIDADE

Pode-se extrair algo de positivo da recente seqüência de catástrofes (que ninguém sabe dizer se já acabou)? De positivo, nada, que ninguém aqui há de ficar contente quando o Flamengo nos envergonha. Nem mesmo os que, como eu ou o Lucas Dantas, tivemos de arcar com as acusações mais injustas -- de “corneteiros” a “antiflamengos” -- por assinalar as carências evidentes desse Flamengo. De mais a mais, não há figura mais irritante, nas derrotas, do que o pessimista que desanda a falar “eu-te-disse”.

Mas, se prazer não nos dá, ao menos permite desacreditar alguns mitos que há anos a gente vê repetidos por aí, às vezes por rubro-negros da melhor cepa (outras, nem tanto). O principal deles é a conversa mole de que, aconteça o que acontecer, estamos “melhor que em 2005” -- a data mágica em que o sr. Kléber Leite ressurgiu do ostracismo para, segundo a versão, salvar o Flamengo do rebaixamento, montar times competitivos e fazer-nos aspirar a coisa melhorzinha do que escapar da segundona.

Para quem tinha olhos de ver, a falsidade desse argumento já devia ser evidente ao final da temporada passada. Não só pela maneira vergonhosa como ficamos de fora das brigas pelo título e pela Libertadores -- indícios de que o time tinha estacionado num patamar indigno do Flamengo --, mas sobretudo pela declaração inacreditável, para quem não compactua com a mediocridade, de que a “prioridade” para 2009 era o campeonatinho carioca. Discrepâncias à parte sobre o valor do carioquinha, elegê-lo como prioridade não é comportamento de quem aspira à grandeza.

Fato é que, com apenas seis jogos disputados, eu conheço rubro-negro que já anda fazendo conta de quanto falta para escaparmos do rebaixamento (para quem quiser manter o cômputo, faltam 38 pontos em 32 jogos). Queira Deus que essa precaução não seja necessária e que, ao final do primeiro turno, estejamos aí mais ou menos onde estamos, graças ao Patético Paranaense e ao todo-poderoso Santo André. Mas mesmo esse cenário desacredita a tese furada de que o sr. Kléber Leite fez deste um Flamengo protagonista.

Outro mito que cai é o do valor do nosso elenco. Esqueçamos os que argumentam, com a cara mais lavada deste mundo, que até o jogo contra o Sport tudo vinha bem, porque “jogamos melhor” que o Internacional e o Cruzeiro (quando a única definição válida de “melhor”, em futebol, é fazer mais gols que o adversário). Concentremo-nos nos não-piadistas que viam esse time bater (aliás, empatar) no Botafoguinho e viam aí material humano bastante para bater no São Paulo ou no Inter. Quantos destes já começaram a rever seus conceitos? Mais importante: quantos destes já põem em questão a sabedoria da decisão (de quem? de quem?) de “manter a base” que tanto desgosto nos deu, em 2008, assim como se falasse dos juniores de 1990?

Senhores, estive lendo os comentários aos últimos posts. Mais do que a insistência de alguns em ainda defender o sr. Kléber Leite, chama a atenção a freqüência com que os esclarecidos se rendem à resignação: sim, o Flamengo de hoje é uma zona, e o principal culpado é o Kléber Leite, mas de que me adianta ter certeza disso se, no fim do ano, uma centena de sócios vai reconduzi-lo ao mando ou eleger coisa igualmente ruim?

Eu queria poder oferecer uma palavra de alento a esses torcedores, mas hesito. Tenho a mesma confiança que eles na sabedoria de um sócio do Flamengo diante de uma urna. Ainda assim, não posso deixar de ter uma pontinha de esperança ao ver um rubro-negro dos melhores como o meu querido Arthur Muhlenberg subscrever, no espaço exíguo de uma semana, duas das teses que eu vinha defendendo aqui, de maneira inglória: (1) que, com Bruno, Leo Moura e Juan (eu ainda acrescentei o Ibson), este Flamengo tem uma espinha dorsal de perdedores, de atletas falhos de caráter, e é preciso escorraçá-los da Gávea o quanto antes; e (2) que, mais que derrubar treinador, é chegada a hora de botar na rua quem escolhe treinador e compra e vende jogador (o Arthur, muito mais elegante que eu, prefere não dar nome aos bois, mas eu aponto à execração pública os srs. Kléber Leite e Plínio Serpa Pinto).

Assim como o Arthur, vejo muita gente boa, aqui mesmo neste espaço, gente que antes discordava de mim (às vezes enfaticamente), hoje defender as mesmas coisas que eu venho defendendo há pelo menos um ano.

Se essa consciência crescente é capaz de influenciar o torcedor que vota, eu não sei. Eu às vezes desconfio de que o sócio do Flamengo é impérvio à argumentação racional. Mas talvez, antes de perdermos de vez a esperança e deixarmos o Flamengo apequenar-se dia a dia nas mãos de Kléber Leites e quetais, talvez valha a pena um último esforço. É preciso ser implacável ao assinalar a culpa central do sr. Kléber Leite no apequenamento do Flamengo, de 1995 para cá. Recordar aos indecisos, sempre que possível, a seqüência de vexames que começou lá com o pior ataque do mundo e não terminou nunca mais. Desmontar cada um dos mitos em que essa gente se escora -- “melhor que 2005”, “melhor que o Edmundo”, “melhor que Barros e Biscotto” -- e assegurar que o Flamengo pode ter um futuro melhorzinho do que isso. E, sobretudo, nunca, jamais compactuar com a mediocridade.

Hoje, muito mais gente está convencida disso do que ontem. Se conseguirmos a adesão de alguma organizada, tanto melhor, mas não alimentemos ilusões. Se cada um fizer a sua parte, se for intransigente e explícito em seu ódio, só a força das nossas convicções há de ser irresistível até mesmo para o mais alienado dos sócios-eleitores.

Fora, Kléber Leite!

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