5 de mai. de 2009

TRAGAM DE VOLTA A FAIXA

Os Virgílios e Homeros do carioquinha hão de me dar licença para falar do tema fastidioso dos oito meses que nos restam de temporada. Muito bem, ganhamos o pentatri e até eu, descrente que sou do valor desses certames municipais, me emociono com a nossa torcida se emocionando. Celebro a nossa torcida celebrando, e não há reação mais rubro-negra que esta.

Passado, no entanto, o deslumbramento com a nossa festa, sou tomado pelo impulso sádico de ir aos blogs botafoguenses para vê-los espernear. E constato, mortificado, aquilo que eu já sabia: bater nessa gente é covardia, tripudiar deles depois deve ser até pecado, e me desculpem se eu não me sinto bem vendo o Flamengo comportar-se como o peso-pesado que se compraz em trocar sopapos com pesos-pluma. Mengão has been boxing way below its weight, se me permitem.

Polêmicas à parte sobre o valor atual do carioquinha, o que não devia ser objeto de debate é que, valioso ou não, o estadual é menos que suficiente para as aspirações e tradições de um time do tamanho do Flamengo. Digo isso porque, infelizmente, os sinais que recebemos da Gávea, passados dois dias da conquista, são no mínimo equívocos.

Muito bem, o Cuca pôs a putada para treinar já na segunda-feira, e, ainda que tenha sido só um recreativo, não poderia haver sinal melhor do que este de que o time do Cuca não quer repetir a experiência amarga do time do Joel, na quarta-feira seguinte ao título.

Ou poderia? No dia seguinte, eis que o goleiro Bruno vem a público dizer que aprendeu a valorizar o carioquinha, “ainda mais um tri”. O grave, no caso, não é o que ele disse, mas o contraste com sua declaração anterior de que “acho que o estadual é muito pouco [...] pelo que a gente faz e pelo que é cobrado durante o ano: quero algo mais”. Difícil evitar a impressão de que o porta-voz e agora líder do time está conformado com o carioquinha, e espera que a torcida esteja igualmente conformada. A impressão sai fortalecida pelo fato de ele estar pagando agora todas as promessas acumuladas ao longo dos vexames de 2008, a ser honradas quando ganhássemos “um título importante”.

Além do Bruno, também o nefasto Kléber Leite teria vindo a público (não achei a fonte) afirmar que “a prioridade, agora, é o tetra”, assim como afirmara em dezembro que “a prioridade, agora, é o tri”. Como assim, sr. Vice-Presidente? E esse intervalo de oito, nove meses entre hoje e o começo do carioquinha 2010?

Vindo de quem tem a chave do cofre, a declaração é muito mais grave do que a de quem só aspira a, de vez em quando, fechar o gol. Porque deixa a suspeita de que, se planejamento há na Gávea (uma hipótese, admito, generosa), todos os outros objetivos ficam subordinados à prioridade maior de ser tetracampeão estadual, contra botafogos e fluminenses. Admitido isso, está justificado desfigurarem o time na primeira janela de transferências, igualzinho em 2008, para montarem um novo time para frutificar dali a seis meses -- com resultados iguaizinhos aos de 2008.

Aos que enxergam em tri ou tetracarioquinhas o supra-sumo da glória, me desculpem, mas esse não é o Flamengo que eu cresci reverenciando. E se há mais gente em nossa torcida que pensa como eu (e eu suspeito que haja muita), fica aqui o apelo a quem de direito: tirem do armário, imediatamente, aquela faixa do “Brasileiro é obrigação”.

A faixa, é verdade, foi confeccionada num momento de supremo emputecimento com o time, logo depois de um estadual desses que hoje neguinho trata como a consagração definitiva. Mas ressuscitá-la hoje não tem por que ser interpretado como um ato hostil aos jogadores que, até aqui, no que vai de 2009, estão com crédito. É ato meramente preventivo, só um lembrete ao Bruno e aos seus futuros comandados de que, gratidão à parte pelo pentatri, nós esperamos mais deles.

Se possível, ressuscitem a faixa já para o jogo de amanhã, contra o Fortaleza. Eu cá suspeito que o que nós virmos em campo, no Ceará, há de ser um aperitivo do que o time nos reserva no que resta de 2009. E resta uma eternidade.

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