15 de dez. de 2008

DESCONSTRUINDO KLÉBER

Os poucos leitores que me restaram terão percebido que ando repetitivo. É verdade, e sou o primeiro a admitir. Desde aquele trágico 7 de maio de 2008 que ando cá com duas idéias fixas: que o Flamengo não voltará a ganhar nada importante enquanto tiver à frente o sr. Kléber Leite, o maior perdedor a administrar o clube em 113 anos de história; e que este time específico do Flamengo só fez agravar essa tendência porque era composto, em sua maioria, de atletas falhos de caráter, gente dada a tremer ou a perder o foco na hora das decisões.

Sobre o segundo tema, creio ter dito tudo o que eu tinha a dizer no meu comentário de 13 de outubro. Sobre o primeiro, para desalento de quem não me agüenta mais aqui, devo ter material para muitas colunas mais. Paciência.

Com o Brasileiro terminado, era de se esperar que o Flamengo não fosse mais motivo de chacota até pelo menos o começo do estadual. A incompetência e a fanfarronice do sr. Kléber Leite, no entanto, permitiram que fôssemos humilhados publicamente por um clube de segunda e por um ser humano de quinta. Mais adiante, na tentativa de criar-se um factóide que aplacasse a fúria da torcida, nossa sapiente diretoria acabou expondo ainda mais o atual desprestígio do Flamengo, esnobado agora pelo Parreira.

Essa patacoada convenceu-me de que todo rubro-negro esclarecido tem a obrigação de, sempre que puder, botar seu grãozinho de areia para enfraquecer o nosso atual Vice-Presidente de Futebol. Pode ser tarefa inglória, porque essa gente acha que, no final das contas, só deve satisfação à meia dúzia de sócios que os elegeu. Mas eu quero crer que a pressão das ruas e das arquibancadas, se perdurar no tempo, pode jogar o sr. Kléber Leite no mesmo ostracismo a que o condenaram os resultados de sua pífia gestão, em 1998.

Minha modesta contribuição de hoje é uma tentativa de desacreditar o argumento do ruim com ele, pior sem ele.

Em reação a minhas colunas anteriores, alguns leitores sustentaram que a eventual queda do sr. Kléber Leite traria de volta, imediatamente, o mesmo escrete de pesadelos que andou causando estragos na Gávea, em passado recente: um Anderson Barros, um Gérson Biscotto, um Walter Oaquim. Ou isso ou os usual suspects derrotados a cada eleição, uma lista cuja simples enumeração deveria ser suficiente para convencer-nos todos a deixar as coisas como estão na Gávea.

Isso tudo me parece, francamente, terrorismo psicológico do mais baixo. É claro que a perspectiva de ver o Flamengo entregue a essas alternativas me é tão desagradável quanto a qualquer outro rubro-negro em plena posse de suas faculdades mentais. Mas, se de algo nos servem as lições da História, fato é que, recentemente, quando defrontado com um vazio de poder -- após a cassação do sr. Edmundo dos Santos Silva --, o clube encontrou sabedoria suficiente para entregar seus destinos a um Hélio Ferraz. Não é santo de minha devoção, mas, diante das enormes vulnerabilidades do Flamengo de então, fez uma gestão muito melhor do que a encomenda.

Mas esse argumento não ataca a falha fundamental do ruim com ele, pior sem ele. Essa falha é a suposição de que o sr. Kléber Leite é tão patentemente melhor que essa gente que não é preciso nem começar a discutir.

A quem acredita nisso, desculpe lá: eu discuto.

Nos poucos círculos onde me era dado opinar sobre assuntos rubro-negros, eu mesmo cansei de bater nos tais Barros e Biscotto enquanto afundavam o Flamengo, no anterior mandato do sr. Márcio Braga. Achava-os e acho-os duas nulidades que só fizeram diminuir ainda mais o nosso prestígio minguante, enquanto o sr. Márcio Braga se dedicava a outras coisas. Também é fato que, depois deles, o Flamengo, que até então se limitava a brigar para não cair, passou a aspirar a coisas melhorzinhas.

O erro está em creditar essa perspectiva de algo melhorzinho -- se não ganhar o Brasileiro, ao menos classificar-se para a Libertadores -- à gestão do sr. Kléber Leite.

Kléber Leite assumiu o futebol do clube quando Márcio Braga estava em vias de implementar o grande projeto de sua administração: a Timemania. Para quem não entendeu o óbvio, o caça-níqueis tem pouquíssimo a ver com a possibilidade de gerar receita nova ao clube, e muito a ver com a nossa briga para derrubar as limitações legais e judiciais a continuarmos recebendo o que nos é devido, por força do contrato de patrocínio com a Petrobras.

Isso a Timemania resolveu e, uma vez assinado o acordo de adesão à loteria, e uma vez obtidas as correspondentes certidões negativas, o Flamengo pôde voltar a receber o dinheirinho da Petrobras, uma de nossas principais fontes de receitas. O resultado, que o torcedor desavisado não vê, é que coube ao sr. Kléber Leite administrar o futebol rubro-negro num aperto financeiro muito menor do que as alternativas tétricas de Barros e Biscotto.

Isto não torna o sr. Kléber Leite automaticamente pior do que os dois patetas que entregaram o futebol rubro-negro ao sr. Eduardo Uram, em 2004 e 2005. Mas quero crer que nos permite ao menos questionar o argumento de que é inquestionavelmente melhor. Se obteve resultados menos ruinzinhos, foi com recursos muito mais abundantes do que seus antecessores.

***

Enquanto o amigo leitor toma o tempo de concluir se concorda comigo ou não, aproveito a oportunidade para lançar as seguintes perguntas:

(1) O sr. Eduardo Uram continua exercendo, no Flamengo de Kléber Leite, tanta influência quanto exerceu no Flamengo de Anderson Barros e Gerson Biscotto? Quanto do nosso elenco atual é composto de jogadores seus?

(2) Se o contrato com a Petrobras revelou-se ruinoso para o clube, por que cazzo o Flamengo acaba de renovar com a companhia? Nossa sapiente diretoria acredita que esse arranjo capenga da Timemania durará para sempre? Não tiveram acesso às mesmas informações postadas há poucas horas pelo Hermínio Correa no FlamengoNet?

(3) Uma vez esgotado o prazo de carência da Timemania, a partir de janeiro próximo, teremos de complementar com receitas próprias a diferença entre a parcela devida ao Tesouro e os valores arracadados com a loteria. Como fará o sr. Kléber Leite para administrar o Flamengo a partir de então? Se, em temos de vacas um tanto mais gordinhas, os resultados de sua gestão foram pífios, como será em época de vacas magras?

Perguntar ofende?

2 comentários:

Flavio Souza disse...

Seu Blog é ótimo! Conheci hoje! Por favor, continue!

Lorena Galdino disse...

Olá. Gostaria de saber a história do seu nome "Tinhorão". Por favor entre em contato por e-mail. lorenagaldino@yahoo.com.br. Obrigada.