11 de ago. de 2008

TEM CULPA NÓS?
OU “DA NECESSIDADE DE SER XIITAS”.


Compromissos profissionais impediram-me de voltar a pronunciar-me sobre o Flamengo desde o meu último palpite azedo, datado de 22 de junho, há quase dois meses. De lá para cá, as tribulações do nosso time e as trapalhadas do sr. Kléber Leite bem demonstraram que o meu mau humor tinha razão de ser.

Seguiram-se três vitórias, é verdade, que deixaram o Flamengo bem posicionado para cumprir a sua obrigação, que é ser campeão brasileiro. Depois disso, no entanto, enquanto o nosso sapiente Vice de Futebol desmontava o time e deixava o pobre Caio Júnior sem um único meia-armador, desandamos a perder e a empatar, despencando da primeira para a sétima posição e praticamente jogando no lixo as chances de levantar o caneco.

Depois dessa seqüência, 2008 passa a ser um anozinho mais-ou-menos como outro qualquer, com a perspectiva, quando muito, de voltarmos à Libertadores no ano que vem. É preciso ir muito longe no tempo, talvez a 1979, para encontrar outra ocasião em que desperdiçamos de maneira tão flagrante um título que parecia tão bem encaminhado. Só que, ao contrário do elenco atual, o de 1979 acabou demonstrando que tinha caráter e estava em condições de vestir o Manto Sagrado. O time de hoje, até prova em contrário, é só o time que foi eliminado em casa pelo Ameriquinha do México.

Por tudo isso me parece inadmissível que, depois do Bruno, agora me venha o sr. Ibson Barreto da Silva apontar o dedinho para a torcida, em sinal de cobrança. Cobrar o quê de nós? O cidadão Ibson tem dito, para quem quiser ouvir, que acha “brincadeira” o comportamento da torcida, e que, “quando a gente mais precisa da torcida, em vez de nos apoiar, ela nos critica”.

Que tal invertermos os termos da equação e perguntarmos ao cidadão Ibson o que ele e seus companheiros fizeram quando nós, a torcida, mais precisamos deles? Quando acalentávamos o sonho de conquistar a Libertadores, enchemos o Maraca e não deixamos de apoiar, o que foi que Ibson e seus companheiros fizeram? Quando os perdoamos (a meu ver, prematuramente) pela trapalhada de 7 de maio e voltamos a empurrar o time, sonhando com um título brasileiro, o que foi que Ibson e seus companheiros fizeram?

A torcida do Flamengo acostumou mal demais esse bando. Fazem o que fizeram -- ou o que não fizeram -- contra o América e se acham no direito de esperar o mesmo tratamento do time de 1981. Jogam no lixo o título brasileiro de 2008 e querem ser recebidos com carreatas e discurso no aeroporto, qual a seleção de 1958.

Não quero ser injusto e deixar de apontar à execração pública o principal responsável pela débâcle, o sr. Kléber Leite. É dele, mais do que do time que nos restou, a culpa pela perda do título, e não há Marcelinho Paraíba ou Leandro Gracián capaz de reverter a tragédia a esta altura do campeonato, com o Flamengo em sétimo.

Mas é preciso dar o tratamento que corresponde também a esse bando que maltrata a bola com a camisa que foi do Zico, do Júnior, do Leônidas, do Dida. Muito bem, ganharam do poderoso, do multicampeão, do mundialmente festejado Atlético Paranaense e acham que esfregaram seu valor na cara da torcida. Na boa: ou somos todos mulher de malandro ou não é essa exibiçãozinha de sábado que nos fará voltar ao Maraca e apoiar essa gente como se nada tivesse acontecido, de 7 de maio para cá. A torcida do Flamengo precisa tratá-los com indiferença e hostilidade até provarem que são homens, que têm caráter, e possam reconquistar o nosso respeito com títulos.

Outros clubes aí têm feito muito mais do que o nosso sem a exuberância da nossa torcida, com uma torcida às vezes gélida, às vezes hostil. Se alguma culpa cabe a nós, torcedores, pela presente irrelevância do Flamengo (como, aliás, andou bostejando o sr. Kléber Leite logo depois do 7 de maio), é por perdoarmos fácil demais. Sejamos intransigentes, sejamos xiitas na nossa obstinação, e só voltemos a tratar os nossos atletas com carinho quando eles voltarem a conquistar o Brasileiro.

Que, nunca é demais lembrar, é obrigação.




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