ADVERTÊNCIA DE QUEM NÃO DEVE NADA A NINGUÉM
Escrevo estas linhas antes do Flamengo x Ipatinga desta tarde. Pode ser que o resultado do jogo sirva para diminuir um pouco meu mau-humor e, conseqüentemente, a tornar meio descabida esta minha coluna. Oxalá.
Não sei como essas coisas são decididas, se há uma terapia de grupo comandada pelo sr. Caio Júnior ou se simplesmente o inefável Kléber Leite (homem de imprensa, no final das contas) baixa uma instrução e todo o grupo passa a repeti-la. Mas, de umas semanas para cá, fato é que todo o mundo, na Gávea, passou a repetir que a hecatombe de 7 de maio de 2008 “já é passado”, “é página virada”, “nós já até esquecemos”, e que o negócio agora é o Brasileiro.
Essa auto-complacência dos que foram os autores de um dos maiores vexames da história rubro-negra engendra situações insólitas. Como o atrevimento do goleiro Bruno ao criticar a torcida do Flamengo por pegar no pé do Jaílton. Em reportagem recente, o camisa um adverte, em tom de ameaça, que “se a torcida continuar desse jeito, não vamos conquistar o Brasileiro”. E ainda se acha no direito de dar lições a quem carrega, no inconsciente, a lembrança de um Andrade, um Uidemar ou um Biguá na mesma posição que o limitado peixe do Ney Franco: “ele é muito importante para o time, não é possível que [a torcida] não consiga entender isso”.
Perdão. Deve ter alguma coisa no meio do caminho que eu não entendi. Mas a torcida fez a parte dela naquela noite trágica de 7 de maio -- coisa que Bruno e seus companheiros não fizeram. O mesmo se diga do sábado passado, quando finalmente parecia que tinha chegado o momento de voltar a apoiar o time: nós voltamos a comparecer, e Bruno e seus colegas voltaram a ser goleados dentro de casa, por time estrangeiro, diante das barbas perplexas de 50 mil rubro-negros.
Portanto, se alguém está em condições de dar advertências aqui, não é nem Bruno nem qualquer um dos membros do atual elenco. A torcida do Flamengo nunca deixou de comparecer e de apoiar quando se precisou dela. Os jogadores, sim, falharam quando precisaram provar que não eram apenas um time à altura do Campeonato Carioca. Ao contrário de Bruno, ninguém aqui na torcida esqueceu disso, e eu próprio não posso deixar de concluir que as tribulações pessoais do goleiro -- que agora se compraz em bater boca com tricolores -- não se devem a outra coisa senão à incompetência, sua e de seus companheiros, em seguir adiante na Libertadores e impedir que o Fluminense chegasse aonde chegou.
Até admito que não deve ser saudável os jogadores ficarem remoendo eternamente o que aconteceu contra o América. Bola para a frente, que o Brasileiro é obrigação. Mas simplesmente esquecer, como neguinho anda dizendo que esqueceu, tampouco me parece produtivo. Acaba dando nisso aí: nos responsáveis por um dos maiores vexames da história rubro-negra agindo como se não tivessem nada a provar à torcida.
E vocês, ó Bruno, ainda têm muito o que provar a esta torcida, que não precisa provar nada a ninguém.
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