IMPRESSÕES ARGENTINAS SOBRE FLAMENGO E CURINTCHA
Amigos, tenho recebido com especial satisfação as manifestações de contrariedade pelo longo silêncio que me impus sobre assuntos futebolísticos enquanto nulidades do quilate de Gerson Biscotto e Anderson Barros decidirem os destinos da maior paixão nacional. A distância de minha pátria, a Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e do país ao qual ela dá sentido e razão de ser, o Brasil, torna mesmo desnecessários e redundantes os pitacos de quem não acompanha o balípodo nacional senão por flashes eventuais nas ESPNs da vida.
No entanto, o Tinhorão é sensível aos apelos dos amigos, que pediam um pitaco seu sobre um debate artificial suscitado por zé-ninguéns da crônica esportiva provinciana, nomeadamente os senhores Chico Lang e Flávio Prado.
Não tive a ocasião de ouvir os bramidos dos mundialmente festejados futebologistas, mas fontes que reputo confiáveis relatam-me que esses verdadeiros Joões Saldanhas do Arraial andaram botando em dúvida o status rubro-negro de clube mais querido do Brasil. Aparentemente, reivindicam esse posto para uma agremiação interiorana sem cores na camisa nem glórias na biografia, o Sport Club Curintcha Paulista.
Senti-me na obrigação de responder a semelhante desatino, ainda que seja em minha perspectiva de exilado.
Senhores, encontro-me na vizinha República Argentina, onde desfruto de minha casinha nos prados bonaerenses. Aqui permanecerei exilado enquanto os senhores Gerson Biscotto e Anderson Barros tiverem voz e voto na administração do Flamengo. É um protesto silencioso e, admito, não demasiado penoso: minha adega vai enchendo-se de bonardas e malbecs, que vou abrindo à medida que me chegam à mesa saborosos bifes de lomo; tenho comido bem e engordado, graças às empanadas e guisados que me prepara minha amante argentina (dispendiosa mas apetecível); e uma vez por semana vou a Buenos Aires comprar livros e freqüentar putas -- meus principais hobbies nos dias que correm, tendo em vista que o desporto praticamente só me reserva frustrações, de Kleber Leite para cá.
E foi justamente numa dessas visitas à Rainha do Prata que, num diálogo com um nativo, pude ver em sua justa dimensão as diferenças de estatura entre Flamengo e Curintcha.
Foi num dos sebos da Avenida Corrientes. Ao pagar os exemplares que adquirira, o proprietário percebeu que eu era brasileiro (virei a cabeça para olhar a bunda da universitária feia que folheava livros de antropologia, isso me denunciou). Perguntou-me por meu time de futebol. Disse-lho. Os olhos do velhinho brilharam:
-Flamengo... la hinchada más grande del mundo, ¿verdad?
Anuí com uma pontinha de orgulho. O velhinho confessou-se riverplatense e lembrou um baile que lhes demos em pleno Monumental, na Libertadores de 1982. Tempos de Zico, Leandro e Júnior, do nosso lado. O River também tinha um timaço, com os mundialistas Fillol, Gallego, Tarantini, Kempes e Alonso defendendo la banda roja. Ganhamos de 3 x 0, fora o olé.
Quando eu já tinha pagado os livros e fazia menção de ir embora, o velhinho abaixa a voz, olha para os lados, certifica-se de que ninguém está ouvindo e me pergunta:
-El Corinthians es un club bastante más chico, ¿verdad?
Disse-lhe a verdade: é, sim.
Os olhos do velhinho brilharam de novo, seu ar era de pura picardía criolla. Ele queria apenas confirmar a impressão de que quem levou o idolozinho dos bosteros, do Boca Juniors, foi um desses clubes de bairro que de repente sofrem um takeover empresarial e começam a esbanjar dinheiro para ver se aparecem no mapa. Uma espécie de Fulham com coqueiros no CT e baianas com abacaxi na cabeça nas arquibancadas.
Por eu ter reconfortado o velhinho, ele me deu de presente um livro do Fontanarrosa chamado Cuentos de fútbol. Saí dali mais feliz, sabendo que fizera uma boa ação: afaguei o amor-próprio do vendedor, confirmando que suas impressões sobre o futebol brasileiro eram corretas, e ajudei-o a continuar sacaneando os bosteros, corroborando que perderam o Tévez para um clube de bairro.
Conto esse episódio para concluir o seguinte: alguns clubes já nascem eternos, e desenvolvem essa vocação gestando gênios do quilate de Zizinho, Dida, Joel, Leandro, Andrade, Adílio e Zico, ou incorporando definitivamente às suas cores craques como Leônidas da Silva, Domingos da Guia ou Biguá.
É uma irmandade restrita, essa dos clubes eternos, e seus membros sabem reconhecer-se de vista. Minha camisa listrada em vermelho e preto é minha carteirinha de sócio dessa irmandade, reconhecida com mesuras e de imediato por outro membro, cuja carteira é uma camisa branca com uma franja diagonal em vermelho (é importante que se frise a cor: ninguém entra de sócio com uma faixa preta no lugar da vermelha).
A camisa sem cores nem glórias do Curintcha não lhe garante acesso a esse grupo seleto, por mais simpatizantes que a agremiação tenha em lugares como Carapicuíba, Pindamonhangaba ou Tucuruvi. Tampouco lhe garantem ingresso os idolozinhos que foi capaz de produzir ao longo de sua história incolor como sua camisa: Biro-Biros, Casagrandes, Wladimires, Basílios e Pequenos Polegares.
O velhinho riverplatense sabe disso, eu sei disso, todo o mundo sabe disso.
Só precisávamos transmitir a informação aos senhores Chico Lang e Flávio Prado.
13 de mai. de 2005
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8 comentários:
Amém.
Nós rubro-negros, de 23 anos, que temos lembranças remotas da epoca gloriosa de Zico (apesar de achar que a história do flamengo, por si só, já é gloriosa), precisamos dos seus comentarios.
Não poste somente o ano que vem...
Saudações rubro-negras
João Carlos Froede
Vou fazer o possível, João. Como expliquei no post, só tenho acompanhado o Flamengo via Globo Internacional, quando a Globo não resolve transmitir -- como fez outro dia desses -- uma merda do gênero Ponte Preta x Fortaleza.
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O PRECURSOR DE TODOS OS MICOS
A história do Urubu já começou com um mico gigantesco. Oito mal-intencionados estavam navegando pela Baía de Guanabara em direção à praia do Flamengo pra fundar o clube, quando seu barco simplesmente naufragou, devido aos ventos para os quais não estavam preparados. Ficaram à deriva, se segurando nos restos do barco, até terem as vidas salvas por uma lancha que voltava da festa da Penha. Mas os sujeitos não aprenderam a lição e mesmo assim teimaram em fundar o Flamengo. Mal sabiam eles que esse era apenas o início de uma longa história de micos e vexames de toda ordem. Se tivessem consciência disso, teriam pensado duas vezes antes de insistir em criar uma instituição fadada ao fracasso, como esse episódio inicial prenunciou. Com um pouquinho mais de sorte o mundo teria se livrado da convivência com um clube dessa natureza.
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