A NOVA ORDEM DE FURACÕES E SANTO ANDRÉS
Eu achava que escrevia para dez leitores fiéis. Hoje me dou conta de que, fora os que me lêem para ponderar o que escrevo, há um número dificilmente quantificável de energúmenos que me lêem para espumar de ódio quando estou certo e para morrer de rir quando meu time se fode.
Entendo que, para esse segundo grupo, o que aconteceu ontem seja engraçadíssimo, uma pândega. Não os culpo: eu mesmo contabilizo entre os dias mais felizes de minha vida o 1º de dezembro de 1998, quando o Vasco da Gama se fodeu de verde e amarelo em Tóquio.
Paciência. Não sei quantos entre esses leitores de má vontade terão condições intelectuais de, uma vez exercido o sacrossanto direito de sacanear quem perdeu e deu vexame, parar e pensar sobre se faz sentido o que eu escrevo.
Há tempos venho dizendo que o futebol brasileiro como um todo vive o seu pior momento. São Caetano, Atlético Paranaense, Figueirense, Criciúma, Ponte Preta, Brasiliense e agora Santo André só podem ocupar posições de destaque em âmbito nacional quando Flamengo, Curintcha, Vasco, Palmeiras, Atlético Mineiro, Inter e Grêmio estejam no fundo do poço.
Os torcedores dos clubes pequenos hão de argumentar que estão onde estão por méritos próprios, porque souberam investir e planejar a longo prazo. É uma meia verdade. Seria uma coincidência insólita se só clubes do quilate do Atlético Paranaense e da Ponte Preta tivessem dirigentes competentes. Minha tese é que, por experiência histórica, tinham, sim, os dirigentes mais preparados a administrar um futebol entre o medíocre e o mediano. Quando a crise se instalou e manter grandes times se tornou inviável, prosperou quem sempre se contentou em montar times para disputar a segundona.
Durante a transmissão do jogo de ontem, pela Globo, o Sérgio Noronha intuiu a justeza do que estou dizendo. O Casagrande, que entende tudo dentro das quatro linhas, acha que, fora delas, São Caetano e Santo André têm uma administração de Manchester United. Interpretações divergentes do porquê da “nova ordem” que todo o mundo viu que está aí, mas que os mais conseqüentes esperam que seja passageira.
Para a torcida arco-íris, o Flamengo perder em casa uma decisão para o Santo André deve ser algo assim como tocar o céu com as mãos. Mas, quando a zebra, mais que um episódio isolado, demonstra uma tendência que também afeta, em maior ou menor grau, o Curintcha, o Grêmio, o Palmeiras, o Atlético Mineiro e o Botafogo, os analistas inteligentes deviam soar o sinal de alarme.
O bem do futebol brasileiro está no bem dos grandes clubes brasileiros. Algo precisa ser feito para tirá-los do fundo do poço.
1 de jul. de 2004
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6 comentários:
Kiko, meu caro, eu não tenho tido tempo para subliteratura. Se tivesse, leria romances policiais, não o Blog de Primeira. Na boa, acho difícil refutar essa tese de que os clubes pequenos vão bem porque os grandes vão mal. Não sei em que contexto citaram o João Saldanha, nem sei que cazzo um autor morto há 14 anos pode ter escrito que invalide a minha tese. Minha e do Sérgio Noronha, aliás, que ontem foi na mosca quando o Galvão Bueno começou a falar da "nova ordem" do futebol brasileiro.
Dado curioso: ao longo da década de 90, os clubes brasileiros deitaram e rolaram na Libertadores. De 2000 para cá, nenhum faz frente ao Boca Juniors. Parece que a tal "nova ordem" de Furacões e São Caetanos esqueceu de impor-se no cenário sul-americano.
Valeu pelo apoio. Bola pra frente.
Obrigado, Mauricio, pelos comentários. Disseste tudo e um pouco mais. É esperar que esta fase triste passe, trabalhar para isso reconstruindo nossos clubes, sem ignorar que chegamos a este momento catastrófico por culpa nossa. Os Atléticos Paranaenses só fizeram aproveitar-se da nossa fraqueza para parecer grandes merdas.
Ao Cahuê: difícil entender o seu arrazoado incongruente. Eu falo de uma conjuntura triste do futebol brasileiro como um todo e você se enche de brios por causa do Atlético-PR e só me fala do Atlético-PR. Eu cito fatos (a impotência da "nova ordem" brasileira diante do domínio argentino na Libertadores) e você me vem com o argumentum auctoritatis: ah, mas o João Saldanha também achava que o Atlético-PR um dia seria grande. Ele disse. Amém.
João Saldanha foi dos mais brilhantes autores de nossa crônica esportiva, mas, no final da vida, escreveu, disse e fez não poucas besteiras. Ele fala do imobilismo dos dirigentes cariocas mas não conta que ele próprio moveu uma campanha demagógica contra a construção de um grande estádio no interior do Estado, "porque o povo estava morrendo de fome".
Mas não perca a calma, Cahuê. Se você e o João Saldanha estiverem certos, os fatos se encarregam de me desmentir. Por enquanto, acho difícil refutar o fato evidente de que o futebol brasileiro vai mal justamente no momento em que Furacões e Criciúmas parecem grandes. Se um dia um clube desses ganhar uma Libertadores, talvez dê para argumentar que eles é que viraram grandes, e não que os grandes se debilitaram.
Só acho que um clube grande de verdade não precisa reivindicar sua grandeza, como você está fazendo, apoiando-se no João Saldanha.
Uma Libertadores, Cahuê; um Mundial; uma MERCOSUL ou coisa semelhante; um -- UM! -- craque que tenha entrado para a história do futebol brasileiro; uma torcida significativa fora do Paraná.
Demonstre que vocês têm algum dos itens acima e pode ser que eu dê o braço a torcer. Sem isso, tenho para mim que o Atlético-PR, com seu UM título brasileiro, não é muito mais que o Coritiba ou o Guarani (dois clubes, aliás, que têm estádios de respeito, já que vocês se baseiam na Arena para demonstrar a grandeza do Atlético).
Só discordo das críticas dão Porto. Embora os portugueses não são a primeiríssima linha do futebol europeu, têm seu peso. Ganharam, inclusive, a Liga de 87 e o Mundial.
Esse flamengo de merda deveria pagar as dívidas e fechar as portas.....
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