OS MEUS FLAMENGO x CURINTCHA
Acredito seriamente que um dia Flamengo x Curintcha será o superclássico brasileiro, aquele que os torcedores aguardam um ano inteiro -- suplantando, assim, clássicos regionais como Flamengo x Vasco e Curintcha x Parmera. De modo que a vitória rubro-negra de anteontem, por insípida que tenha sido, merece no mínimo um registro, pelo menos como ponto de partida para minhas reminiscências de outros Flamengo x Curintcha.
Quem me ouve vituperar contra o Curintcha há de pensar que clube tão escroto alguma vez foi responsável por algum trauma meu. Pelo contrário: estive em três Flamengo x Curintcha. Nos três batemos os gambá de goleada.
O último foi um 4 x 1, em 1998, se não me engano. De um lado, o desfalque de Romário -- para variar de fora, com dorzinha na panturrilha, na barriguinha ou no útero. De outro, o líder incontestável do Brasileiro, comandado pelo intragável mas competentíssimo Wanderley Luxemburgo. Foi o maior jogo da carreira do Iranildo. Saiu aclamado, aos brados de "Chuchu é Seleção". Desnecessário dizer que Iranildo nunca mais jogou aquilo tudo e hoje mostra seu futebol refinado no Brasiliense de Luís Estêvão.
Outro foi aquele dos 5 x 2, acho que em 1994. O Zagallo, então técnico da Seleção, foi ao Maraca para ver Sávio. Viu Magno. Se não me trai a memória, Magno meteu três gols e o Sávio deu um passeio de 90 minutos pela Avenida Gralak. Naquele ano, o Curintcha seria vice-campeão, suplantado pela classe superior do maior rival.
Mas o primeiro -- ah! o primeiro... Eu tinha sete anos, fui ao Maraca levado pela mão do meu pai. 1983, tempos de Zico, Júnior, Leandro e Raul. Estreava no comando do time o Carlos Alberto Torres. Do outro lado, aquela mulambada de sempre de Biros-Biros e Casagrandes. Transcorridos 90 minutos, o placar estampava 5 x 1. Mas houve outros três gols rubro-negros, injustamente anulados.
Neste ponto, ergo a fronte e digo para quem quiser ouvir: senhores, eu vi o Flamengo meter OITO no Curintcha.
***
Ontem à noite meu amigo André Dória me chamou para ver preciosidades que ele tinha descoberto em fitas de vídeo. Após assistir a dois episódios do Documento Especial -- uma porrada na cara do telespectador ainda hoje, passados 16 anos --, a surpresa: Brasil x Irlanda do Norte, 1986.
Zicão com a bola pela direita. Nenhum irlandês consegue chegar a um metro do Galinho. Bola para Careca. Bola para Zico na entrada da área. Dois irlandeses acossam o Zicão. Foi como se a bola nunca tivesse chegado nele: com o calcanhar, a bola volta, num átimo, para Careca com o arco escancarado pela frente. Gol do Brasil.
Muita coisa passou pela minha cabeça na hora. Lembrei de como era mais genuína a alegria do povo com sua Seleção. Nossos jogadores eram nossos jogadores, o Zico era do Mengão, o Careca era do São Paulo, o Josimar era do Botafogo.
Mas a conclusão que ficou mesmo, vendo o toque de calcanhar do Zico, vendo o botafoguense Fernando Vanucci desmanchar-se em elogios os mais rasgados ao ídolo rubro-negro -- o que ficou mesmo foi o seguinte: senhores, nunca haverá outro igual.
***
Um dos meus sete leitores, Renato Freire, recentemente botou no ar mais um blog rubro-negro: Homem Gol. Não fosse eu um analfabeto em HTML, faria uma coluna de links e o incluiria lá, junto com o Nove Meses, a coluna do Juan Saavedra e demais amigos do Tinhorão. Como sou uma besta, fica pelo menos o registro, com o link no texto.
2 de set. de 2003
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Um comentário:
Aprendi muito
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